A SINA DE PLUTÃO
Vivendo no silêncio e na escuridão, Plutão sempre revelou uma tendência à reclusão e à melancolia. Distante de planetas vibrantes e de cores fortes, como Mercúrio e Marte, ou mesmo espalhafatosos, como Saturno, famoso por exibir seus anéis (quase um Ringo Starr celestial), Plutão costumava ser lembrado apenas nos livros escolares e em alguns papéis menores em filmes de ficção científica. Mas, enfim, deu-se a tragédia...Plutão não é mais planeta. E sua auto-estima foi, literalmente, para o espaço.
Desde que sondas espaciais começaram a circular por sua órbita, como insetos impertinentes, o simpático planetinha, que na sua singela preguiça chega a levar 248 anos para dar uma volta completa no sol, passou a ter sua identidade questionada. Por ser pequeno, frio e distante, alguns astrônomos começaram a duvidar de que Plutão poderia ser “dominante em sua zona orbital” (Freud explica?), questionando as vantagens oriundas desta condição, como descontos em competiçõs intergalácticas e participação especial nas histórias de Carl Sagan e Isaac Asimov.
Tantas reviravoltas surgiram nesta questão (uma hora era, na outra não era planeta) que Plutão viu sua auto-estima ser atingida de forma profunda. Passou a sentir inveja, por exemplo, de Marte, um inquestionável planeta, sempre presente em grandes produções de Hollywood. E o que era inevitável aconteceu: a reunião da União Internacional de Astrônomos, em Praga, na última quinta-feira, bateu o martelo: ou Plutão aceita a companhia de mais três planetas (e quantos mais viriam depois?) ou continua sozinho, mas sem a condição de planeta. Ou pior, com a condição de planeta-anão.
Agora, nada mais resta a Plutão a não ser aceitar a sua condição de rebaixado à segunda divisão (ou série B) da galáxia. Sua única esperança é que os nascidos sob o signo de escorpião continuem a aceitá-lo como seu regente. Ousadia, virilidade e intensidade emocional são características deste signo. É tudo o que um agora planeta-anão e de órbita pouco convencional (ainda tem essa) mais precisa agora.
André Luis Mansur