Hiroshima e Nagasaki

Rui Pais, de Portugal, envia um texto pelos sessenta anos (este texto é de 2005) em que a Bomba Atômica destriu Hiroshima e Nagasaki. Respondi-lhe com um a trova de amigo, José Carlos de Lery Guimarães e uma poesia de minha verve...

Rui Pais escreveu:
Hiroxima-uma  experiência  inesquecível
        6 de Agosto de 1945 - 6 de Agosto de 2005

Nada torna a paz mais desejável do que a reflexão sobre os horrores da guerra. Milhões foram brutalmente mortos em dezenas de guerras inúteis.

Para compreendermos mais plenamente os horrores da guerra, reflectamos sobre uma cena de há 60 anos.

Era a manhã de 6 de Agosto de 1945. Bem acima estava o B-29, Enola Gay; abaixo estava a atarefada cidade industrial nipónica de cerca de 400.000 habitantes. Às 8.15, a bomba atómica de 13 quilotons, com sua queda amainada por três pára-quedas, explodia a 580 metros de altitude sobre o centro de Hiroxima. Cerca de 140.000 pessoas foram mortas na explosão; muitas delas ficaram tostadas vivas pelo calor da radiacção. As vítimas continuaram depois a morrerem lentamente, devido aos efeitos da radiacção. Estes horrores causados por aquela explosão atómica, e de outra, três dias depois, sobre Nagasáki, estão além da compreensão humana.

Durante quase 60 anos que se comemora este ano de 2005, em 6 de Agosto. Acontece todos os anos, exactamente às 8.15 da manhã, que se guarda silêncio entre uma multidão, que se reúne no Parque da Paz, em Hiroxima. Guardando-se um minuto de silêncio em memória daquela catástrofe ocorrida há 60 anos no Japão. Quando num lampejo muitos milhares de pessoas perderam a vida. E este infausto acontecimento, tem sido lembrado cada ano. È evidente que o Japão deseja que o mundo se lembre desta lição de seu passado excruciante. Forte repulsa pela guerra paira no coração de muitos sobreviventes e testemunhas oculares de Pearl Harbor, Hiroxima e Nagasaki. Rememorando, muitos questionam se seus Países tinham motivos válidos para exigir o sacríficio de seus entes queridos. Naquela época os americanos chamavam os japoneses de "japs ardilosos", e achavam fácil atiçar as chamas do ódio e da vingança com as palavras "Lembrem-se de Pear Harbor!". No Japão, ensinou-se às pessoas que os anglo-americanos eram  kichiku, que significa "bestas demoníacas".

Menos de um mês depois de rebentarem as bombas atómicas, em 2 de setembro de 1845, o Japão se rendeu formalmente.

Por que foi usada a arma de destruição em  massa?

Explicando os motivos de se ter empregado aquele método de destruição em massa, a (Enciclopedia Americana) diz : "Ele (Harry S. Truman) decidiu usar bombas atómicas contra o Japão, acreditando que elas acabariam mais rapidamente com a guerra e salvariam muitas vidas.  Uma réplica exacta da bomba atómica que nivelou Hirixima foi construida por pesquisadores no Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México, EUA. Por que motivos? Para solucionar o mistério ainda existente sobre os efeitos da radiacção proveniente daquela explosão. Ao passo que a bomba de Nagasáki e outras bombas testadas eram armas de plutónio, a bomba de Hiroxima era a única de urãnio. No ínicio da década de 80, uma reavaliação de sua explosão mostrou que os cálculos prévios estavam errados, e que, em vez de radiacção de néutrons, a bomba liberou na maior parte raios de gama".

Exactamente quantas pessoas morreram em resultado das bombas atómicas lançadas em Hiroxima e em Nagasáki em 1945? De acordo com uma pesquisa pelo Ministério da Saúde que disse que a partir de 1988, que 259.856 mortes têm sido atribuiveis às bombas, mas exactamente quantos foram não se sabe.

Mas o espectáculo de destruição foi horrível, certa obra intitulada  (Morte em Vida), descreve que uma hora após a explosão começou a cair uma "chuva negra" sobre as partes da cidade que ficavam a favor do vento. A precipitação radioactiva continuou até o cair da tarde. O resultado, desordenadas procissões de queimados e feridos começaram então a emergir da onda de incêndios, grande parte das pessoas tinham a pele pendurada em todo o corpo, alguns vomitavam, o colapso físico acompanhava o colapso emocional e espiritual. As pessoas sofriam e morriam, estupefactas e inertes, sem emitir um som sequer. Os que tinham condições perambulavam silenciosamente pelos subúrbios nas colinas distantes. A seguir uma ampla série de doenças se desenvolveram da exposição à radiação. Também os processos reprodutivos das pessoas foram afectados. E o tempo faltaria para descrever tantas outras consequências trágicas desta catástrofe.  E hoje passados 60 anos, ninguém pode garantir, Hiroxima  nunca  mais!!

***


TROVA:

"Veio a Paz — e o mundo, em prece,
pede uma flor que o redima:
é tarde, nada mais cresce,
na solidão de Hiroshima"...

       José Carlos de Lery Guimarães

N. A.: A arte exige esse leque aberto e pleno de visão social. Por isso, o poeta, ao sofrer o impacto das tragédias, faz versos... Esse trovador por certo tinha o cogumelo imensurável no coração... Mas o Ser humano se refaz de si... Os japoneses reconstruíram-se. E então...

Milagrama

        Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Um cogumelo de fumaça imensurável
resulta da bomba
insulta a pomba da Paz,
que, enegrecidas penas,
revoa a fremir de dor,
gorgulhante...
e as penas se desprendem,
quais as peles das pessoas.
Os olhos se enevoam,
mil tipos de cãncer
desorganizam as células
ou as células, desorganizadas,
provocam mil tipos de Câncer?
Fogo na garganta, voz trancada,
vozes em sussurros,
vozes aos gritos...
E o Cosmos, perplexo,
porque o resto da humanidade perplexa
vira o rosto,
não faz um gesto,
sente-se impotente...

Mas o povo japonês se refaz de si, se reconstrói
e "da solidão de Hiroshima",
que tanto impactuou o jornalista atento,
o trovador solidário e observador,
brotaram as flores do potencial humano,
testadas à exaustão.
E nasceram novas Horoshimas e Nagasakis.
Mesmo que os criminosos
que pensam ser donos do Poder
(NÃO o são!!! "Não o são"!!!)
continuem impunes,
o que importa, nesses sessenta anos,
é que as duas Phoenix se ergueram das próprias cinzas!

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

Belo Horizonte, 05/08/2005, para amanhã, 06/08/2005, nos sessenta anos desse horror.

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