Símbolos e símbolos
Pode-se falar o que quiser, mas os norte-americanos têm uma relação muito especial com seus símbolos nacionais. As cores e o formato da bandeira são amplamente utilizados em roupas, adereços e bandeirinhas, sem medo de parecerem bregas. O Hino Nacional é cantado das mais diversas formas e diverte as platéias a cada execução.
Lá eles têm liberdade para usar os símbolos nacionais como melhor lhes aprouver.
Aqui não é assim. Uma lei de 1971 ainda classifica como crime o uso da Bandeira Nacional em vestuário, por exemplo. Tecnicamente, essa lei cai em desuso quando há Copa do Mundo, mas, em linhas gerais, o policial que autuar um cidadão por estar vestindo a bandeira vai encontrar eco na delegacia (e na Lei). E o incauto patriota perde o eco na cadeia.
Fiquei sabendo disso a partir de uma discussão ocorrida na lista da Gréia, aquele site de Recife, sobre o qual já escrevi. Aconteceu uma apresentação do Hino Nacional com arranjo diferente em Pernambuco e o assunto pipocou. Pode ou não pode? O primeiro raciocínio é: pode! Afinal, a Constituição de 1988 exorcizou os fantasmas da Constituição das velhas aulas de Educação Moral e Cívica. Mas o raciocínio não está certo, infelizmente.
A minha amiga Marília de Almeida, aqui do Jurídico da empresa, pesquisou em seus alfarrábios e confirmou que a Lei 5.700, de 01/09/1971, ainda vale, uma vez que a Constituição de 88 não revogou suas disposições. Ou seja, no âmbito da Lei, cantar o Hino em samba ou vestir a bandeira é “desrespeitar” os Símbolos Nacionais. Dá cadeia!
Aí, vem a pergunta: mas se aqui se copia tanta bobagem, por que não copiar essa relação íntima e gostosa que os norte-americanos têm, por exemplo, com a sua bandeira ou com seu hino?
É certo que ainda se fale de patriotada, no Brasil, quando alguém revela amor pelo País. Hino Nacional só se canta em dia de jogo da Seleção, e só a primeira parte. Assim mesmo, nem todo mundo lembra da letra. E verde/amarelo em roupa é uma combinação que, salvo algumas exceções, gera piadinhas idiotas.
Confesso que sou meio bobo para essas coisas. Fico emocionado quando vejo a Bandeira do Brasil hasteada em algum lugar, no estrangeiro. O Ayrton Senna era mestre em emocionar brasileiros bobos como eu quando empunhava a bandeira ao final de uma corrida que conquistava.
Meus bons amigos da contestação vão dizer que isso é uma enorme babaquice. Olha, em se tratando de Brasil, eu sou babaca, sim. Este País está cheio de defeitos, tem problemas às toneladas, mas ainda é o País que eu aprendi a amar. É uma relação semelhante à que tenho com família. A gente sabe que é complicada e maluca, mas a gente até vai à luta para defender.
Pois eu fiquei com uma pontinha de inveja dos norte-americanos nas recentes manifestações de patriotismo, nesse momento tão difícil e problemático como o que eles estão vivendo. Por aqui, vestir um casaco com a bandeira brasileira estilizada seria correr o risco das gozações na rua ou da voz de prisão. Por lá é sinal inequívoco de que toda maneira de amar o país vale a pena.
Maurício Cintrão