EMILY DICKINSON

          A solitária poetisa oitocentista Emily Dickinson nasceu em Amherst, perto de Boston, em 10 de Dezembro de 1830. Passou toda a sua vida reclusa sem nada ter publicado. Nunca se casou e permaneceu em casa cuidando dos parentes mais velhos. Quando faleceu, aos cinqüenta e seis anos, em 1886, sua irmã Lavinia cuidou da publicação de seus poemas apoiada por Thomas Wentworth Higginson, ensaísta e homem de letras, com quem Emily havia se correspondido e que conhecera numa viagem à Filadélfia e que, possivelmente, tenha sido alvo de seus poemas amorosos.
          A originalidade dos poemas era grande, longe dos padrões convencionais de título, métrica e rima. Ela foi aconselhada a nada publicar, por se considerar que aqueles escritos não fossem poesia.
          A artista solitária criou e inovou. O seu trabalho antecipou as letras do século vinte e influenciou fortemente a poesia moderna. Ela própria descreveu a sua arte como "minha correspondência para um mundo que nunca escreveu para mim".
          Entre 1890 e 1896 as edições de seus livros causaram sensação na comunidade literária americana.
          Quase tudo o que se sabe sobre a sua vida provem de correspondências que manteve com algumas pessoas nas quais ela fazia comentários sobre o dia-a-dia e escrevia alguns de seus 1800 poemas produzidos; foram mais de 1000 cartas. Vestida sempre de branco, Emily Dickinson reconstruiu a Natureza repleta de flores, pássaros, animais e emoções. Para ela, a Natureza é o que se vê, o que se ouve e o que se sabe, com toda a sua majestade simples e harmoniosa. A característica panteísta de seus poemas é evidente; a Natureza é sempre mostrada como o único e verdadeiro templo passível de ser reverenciado. Ela transcendeu os limites acanhados de seu quarto simples de cidade de interior e se universalizou no coração da humanidade que a sucedeu sem ter conhecido a glória do grande escritor. Dedicou-se à tarefa de sentir e transmitir as grandezas que habitam os corações humanos. E o seu baú transformou-se num celeiro literário desafiando a morte, o tempo e o esquecimento.

A palavra morre
Quando é dita,
Alguém diz.
Eu digo que ela começa
A viver
Naquele dia.

          Com este curto poema ela atravessou o espaço e o tempo, pois o mistério da palavra é o mistério do pensamento, por ser aquela a sua expressão física. O pensamento cruza o espaço e o tempo e pode sobreviver, como espírito, como chama.
          A singular sensibilidade da grande artista transcendeu a brevidade de sua vida e alcançou lugar de destaque no mundo das letras. Espírito livre e investigativo buscou em si mesmo e na Natureza as explicações das razões de ser e existir. Ela entendeu que beleza e verdade são a mesma coisa.
          Natureza, morte e imortalidade são recorrentes em seus escritos. Na última viagem haveria de acompanhá-la a morte, idealizada como uma pessoa, e a imortalidade, companheira inseparável de seus versos, como seus leitores a acompanhá-la numa viagem sem-fim.
          As palavras, expressões físicas dos pensamentos, são pequenos detalhes com os quais se poderá chegar a Deus ou mergulhar na escuridão.

Nagib Anderáos Neto

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