OURO NA NATAÇÃO

Após mais de um século de realização dos Jogos Olímpicos da Era Moderna – motivados pelo ideal do Barão Coubertin – e 88 anos após a primeira participação brasileira, acordamos na manhã de sábado, dia 16 de agosto de 2008, mais ricos!
Mas não se trata daquela riqueza representada pelo dinheiro, embora a medalha que nos faz mais ricos seja a de ouro... trata-se da riqueza do mérito desportivo, de uma nação gigante como o Brasil, que vê, pela primeira vez em sua história, a conquista da tão almejada medalha de ouro olímpica, pela natação...
Foram décadas e mais décadas de espera, onde podemos destacar as participações de Maria Lenk – primeira mulher a participar das Olimpíadas pelo Brasil - nos Jogos de 1932, em Los Angeles e de 1936, em Berlim, e a tragédia da Segunda Grande Guerra Mundial, que suspendeu os Jogos Olímpicos de 1940 e 1944, fase em que Lenk havia se consolidado como a melhor do mundo em sua categoria, adiando para o Brasil a tão cobiçada medalha de ouro! Mal podíamos adivinhar que teríamos que esperar, ainda, sessenta e oito longos anos, para termos e Bandeira verde, amarela, azul e branca subindo mais do que as outras na Sede Olímpica, e ouvirmos o Hino Nacional a silenciar a multidão, atônita, que veria o homem mais rápido do planeta, chorando de emoção...
Foram cinqüenta e seis anos, desde as Olimpíadas de Helsinque, em 1952, quando o Brasil obteve sua primeira medalha na natação – o bronze conquistado por Tetsuo Okamoto, nos 1.500 metros livres, batendo naquela ocasião, os recordes brasileiros e sul-americanos da prova.
Foram seis medalhas de prata e três de bronze, até conquistarmos a medalha de ouro. Medalhas conquistadas como muita garra, dedicação, por verdadeiros heróis que, embora não tenham conseguido a medalha de ouro, demonstraram toda dignidade de alcançarem as melhores posições mundiais e olímpicas, num esporte tão pouco apoiado por aqueles que deveriam apoiar... aqueles mesmos que fazem discursos e mais discursos, alguns muito bem escritos, com boa articulação, mas que não vemos a transformação destas palavras em ações...
Medalhas de prata e de bronze, conquistadas em 7 edições dos Jogos Olímpicos, pelos heróis Tetsuo Okamoto, Manoel dos Santos Júnior, Cyro Delgado, Djan Madruga, Jorge Fernandes, Marcus Mattioli, Ricardo Prado, Gustavo Borges, Fernando Scherer, Carlos Jayme e Edvaldo Valério.
Medalhas que já demonstravam para o mundo que nosso país estava chegando no cenário mundial, neste esporte empolgante, e que, um dia, buscaria o lugar mais alto do pódio...
E este dia chegou! Pequim, Capital da República Popular da China... após o fenômeno norte-americano Michail Phelps, quebrar recordes e se tornar o maior vencedor olímpico da história, os chineses e o mundo viram que o homem mais rápido do mundo, na natação, tinha outra nacionalidade... era brasileiro!
César Cielo Filho, paulista de Santa Bárbara D´Oeste, um jovem de 21 anos, após ganhar a medalha de bronze, nos 100 metros nado livre, veio para final dos 50 metros nado livre, como um dos favoritos, por ter se classificado na semifinal na primeira colocação, com a quebra do recorde olímpico. E a ansiedade era grande... o Brasil não figurava nem entre os quarentas primeiros colocados no rancking das Olimpíadas! Precisávamos de uma medalha de prata... ou uma de ouro!
E em apenas 21 segundos e 30 centésimos a medalha dourada veio morar no peito de Cielo Filho, e eternizou-se para nosso país, que emocionado, comemorou com a mesma empolgação do nosso campeão, e que acompanhando o choro de Cielo, entoou o hino nacional, formando um grande coral de milhões!
Isto demonstra a todos o que é ter esperança num objetivo... o que é querer algo e buscar... sair do seio de sua família, ir para uma pátria distante, sem apoio daqueles órgãos que existem justamente para apoiar, saber do sacrifício e das limitações de sua família, para sustentar um sonho, que agora, neste momento mágico, deixa a esfera de sonho para se tornar uma linda e doce realidade... uma realidade de ouro!
Parabéns Cielo, família e treinadores... Parabéns Brasil! Parabéns povo que ainda sonha e que busca um novo amanhã! E parabéns dirigentes do esporte brasileiro... mesmo sem o apoio de vocês, o ouro, servindo de lição, também é de vocês!

Luiz Antonio Cardoso

« Voltar