PLÍNIO MARCOS

          Quando o conheci, ou melhor, tomei conhecimento de sua fascinante figura, ainda era muita garota. Mesmo assim, enfronhada em literatura, teatro e críticas fiquei impressionada por sua personalidade cativante. Ficava tão concentrada ouvindo suas entrevistas na televisão e procurando notícias sobre ele nas revistas e jornais que meu pai costumava me perguntar o que eu poderia entender do que ele falava.
          Mas entendia. Sua inteligência vibrante, seu jeito totalmente descontraído e sua fé por todas a coisas naturais e sem artifícios, a defesa em prol das pessoas excluídas num país que já os ignorava, a inteligência que se mostrava exuberante em tudo o que se manifestava, fazia com que eu o considerasse um líder. Queria penetrar mais nas idéias daquele impoluto paulista.
          Lembro-me que em declarações à Imprensa dizia que ficou famoso na novela Beto Rockfeller, mas ele permaneceu na minha cabeça e no meu coração desde que ouvi a primeira resposta a uma pergunta que lhe fizeram. E que me transbordou a alma de admiração que carrego até hoje.
          Fascinante e empolgante não escondia suas idéias e se dizia “analfabeto” quando na verdade esparzia talento e competência em todas as obras que elaborava fosse escrevendo peças de teatro, crônicas, romances ou contos.
         Uma das principais características do nosso querido santista Plínio Marcos era a irreverência, fruto de sua extraordinária autenticidade como homem e profissional. Não abria mão de suas idéias, desprezando o que seus opositores pudessem pensar.
         Como todo personagem polêmico ou era amado em demasia ou odiado insistente e profundamente. E fazendo parte dessa primeira corrente gostaria de ver compensado esse homem que devia ter sido mais enaltecido do que realmente foi. E de uma forma incisiva e evidente.  Mas no nosso país a evidência nunca é para aqueles que construíram e foram capazes de lutar por algum ideal a despeito de todas as dificuldades e dedicação.
         A enorme capacidade pessoal indescritível e incontestável, a luta que teve para expor essas idéias que fizeram  a meta de sua vida, a persistência com que tentava divulgar seu trabalho embora perseguido num tempo de censura  e sofrimentos fizeram o caminho do dramaturgo sofrida e injustiçada mas no que se refere ao seu aspecto pessoal idealística muito compensadora.
         Possuía uma sinceridade extrema e não se impressionava com a opinião dos poderosos que podiam prejudicá-lo. Suas peças mostram com extrema agressividade aquilo que queria tanto enfatizar de pessoas menos agraciadas pela sorte e que não conseguiam um lugar ao sol por falta absoluta de oportunidades.
          Passou pelos anos tenebrosos da ditadura com dificuldade e seus trabalhos censurados fazia com que tivesse que lutar ainda mais para sobreviver. Não arrefeceu nem assim sua enorme generosidade em prol dos excluídos e cada vez mais expunha o que acontecia na sociedade dos nossos dias. Sua personalidade peculiar demonstrava por vezes ser uma pessoa agressiva, mas ao contrário tinha uma alma sensível e munificente.
         Sua primeira peça escrita para teatro foi “A Barrela” o que já ocasionou problemas com a censura. Era comparado ao dramaturgo Nelson Rodrigues, mas isso não lhe causava nenhuma espécie de orgulho porque dizia que esse tipo de comparação “era próprio de uma sociedade burguesa, que adora fazer campeonato de tudo”.
         O que sempre me impressionou é que Plínio Marcos era uma autodidata já que não havia completado o primário e confessava-se “O analfabeto mais premiado do Brasil”.
         Acho que a sedução imensa que o fantástico santista me inspirava e creio que a milhares de pessoas era justamente esse extraordinário talento congênito desenvolvida na vida por ele observada com sagacidade e amparada pela invulgar e maravilhosa inteligência que possuía.             
            Quero homenagear esse homem que enobreceu o país com sua genialidade admirável e que não se curvava a nada nem a ninguém pela luta e execução de seus ideais e cujo coração profundamente humano se sensibilizava com os carentes de oportunidades.

Vânia Moreira Diniz

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