Adeus, Fernando!
A morte de Fernando Sabino chegou-me no mesmo dia em que recebia as provas do meu oitavo livro, Bom Dia, Espanha!
Um dia em que estava particularmente reflexivo, sem saber em que destino vai levar-me essa vida de escritor.
Ao saber de sua morte, senti algo parecido como quando estava num hotel e soube, pela rádio destinada a tocar somente música, da morte de João Cabral.
A noticia deixou-me com sentimentos cruzados de tristeza e esperança.
"Morte, colar no pescoço da vida", como dizia Drummond que ele tanto citava.
A morte de Fernando, gloriosa porém, veio encontrá-lo com uma obra vasta e um homem relativamente feliz - um belo e raro exemplar da espécie humana, Fernando Sabino.
Figura de simpatia nos tempos aziagos de hoje.
Lembro-me frases soltas dele, nas entrevistas:
" – Eu me considero, graças a Deus, um homem rico. De fato, na infância tinha que dividir as bolachas.
" – O escritor só tem obrigação de escrever. O resto é com a pátria."
Era dono de um otimismo à mineira, sem exageros.
– "No fim tudo dá certo, senão não é o fim."
Fico pensando que atravessei duas décadas lendo e aprendendo com as crônicas dele.
– "A verdade não é preta nem branca, é de outra cor que permeia as duas."
Os livros da coleção para gostar de ler... sempre a marca da prosa do Fernando.
Amante da boa vida, realizou-se nela, olimpicamente.
Morreu velho sem parecer velho, dai´minha surpresa, porque jamais dava-me conta da sua idade.
Partiu discreto, dentro de casa, sem espanto, na véspera do que seria seu último aniversário.
Véspera também do feriado do dia das crianças e da padroeira. Morreu de véspera, elegantemente.
Talvez Fernando já estivesse a fim de encontrar seus outros amigos. Fica dele a esperança de encontrar ainda ternura e encanto no elemento humano da vida.
Na última entrevista que vi dele, divertidíssima, dizia:
– "Depois de uma certa idade, se um homem tiver um mínimo de dignidade, tem que jogar fora tudo que os outros e a sociedade jogou em cima dele e transformar-se novamente no menino que foi".
Para ele, tornar-se menino era um ponto de honra.
Marcelino Rodriguez