Por quê cultuamos São Sebastião?

Quem visita a eterna Roma e consegue perambular, ao menos de passagem, pela histórica Via Apia não deixará de encontrar, junto às catacumbas dos primeiros mártires do cristianismo, o túmulo de São Sebastião. E como se este fato não falasse pro si mesmo, há aí uma unanimidade histórica que diz "ser este lugar venerado pelos fiéis desde a mais remota antiguidade". Mas nós, do outro lado do mundo, poderíamos nos indagar por que e como esta devoção, tão antiga, refiro-me ao III século d.C., chegou até nós e com força tamanha? É claro que somos legítimos herdeiros do devocionário medieval português. E aí lembramos que, nesse contexto, o culto dos santos e das relíquias vivia o seu apogeu. Os nossos patrícios vinham, sobejamente, carregados do ancestral cristão dominante em toda a Europa. Não é à toa que o poeta português Luís Vaz de Camões, no seu poema épico "Os Lusíadas", narrava que os descobridores queriam implantar entre nós a "fé e o império". E esta crença lusitana se esparramou entre nós de uma maneira gigantesca, incomensurável, incontestável, ilimitada.

Percorrendo o mapa católico brasileiro é difícil não encontrar em alguma Paróquia, sobretudo rural, ermida, capelinha ou oratório familiar uma imagem barroca de um São Sebastião talhada em madeira-pátria por mãos hábeis e desconhecidas. Ele vem sempre preso a um tronco de árvore e sofrendo o martírio das flechas. Esta iconografia fala bem alto ao sofrido povo nordestino, no seu calvário, na sua cotidiana dor, na sua eterna via sacra desta vida "severina".

Por toda parte também se espalhou no imaginário religioso-popular que Sebastião é invocado como o santo defensor do povo contra os males: da guerra, da peste e da fome. Das batalhas insanas, a história do Brasil faz pouco registro. Mas a guerra da violência urbana é um fato de dolorida constatação em terras de Santa Cruz. E como esquecer a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro que o tem como patrono e protetor? Da peste nós vamos apelar para o Ministério da Saúde que deve, urgentemente, contar com o apadrinhamento de São Sebastião para eliminar, de uma vez por todas, as doenças endêmicas que já fizeram tantas vítimas neste país doente. E, por último, mas não em derradeiro lugar na ordem das prioridades sociais emergentes, o problema da fome. Aí, nenhum cidadão brasileiro, digno deste nome, mesmo que não seja devoto deste santo irá se opor ao brado que ostenta: eliminarmos a fome. Recordo a profecia de Dom Hélder Câmara clamando, rogando e suplicando: um novo milênio sem fome.

Por tudo isso e muito mais, ultrapassando as fronteiras geográficas e eclesiais do bairro do Alecrim - São Sebastião é padroeiro de Natal, do Brasil e do mundo enquanto permanecer entre nós a peste, a fome e as guerras que tantos males nos causam e tantas mortes nos abalam.

Padre José Freitas Campos
Pároco da Paróquia de São Sebastião

Artigo publicado no Jornal Tribuna do Norte (Natal/RN) em 20/01/2008
Fonte: http://tribunadonorte.com.br/noticia.php?id=64635
Sobre São Sebastião, ler também: http://www.velhosamigos.com.br/datasespeciais/diasaosebastiao1.html

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