ABRA AS ASAS, E PODE VOAR
(Tributo a Zé Rodrix)

Já fazia tempo que eu sequer ouvia falar dele. E pensar que ele foi um dos principais ícones do rock “pé na estrada” no fim dos anos de 1960, para logo depois transformar-se, pela voz mágica de Elis, num dos principais nomes da música brasileira dos anos de 1970.
Junto com Sá e Guarabyra, ele começou a mudar a cara do rock brasileiro. Depois, resolveu seguir carreira independente, “para o bem de todos, e felicidade geral da nação”!
Junto com Tavito, compôs o hino de quase todos que vivem a loucura das cidades: “Eu quero uma casa no campo!”. Também quis o “silêncio das línguas cansadas” e “um filho de cuca legal”, mas reconheceu que “de vinte em vinte anos, aparece no mundo uma nova geração. Mas de quarenta em quarenta é que todas as coisas se repetem”.
Ele foi inteligente, eclético, irônico, criativo, além de empresário bem sucedido, na área publicitária, com “jingles” que permanecem na memória de todos os que cantaram: “Enquanto o mundo perde a forma, eu me encontro em mim”, ou: “Só tem amor, quem tem amor pra dar!”.
Creio que não seria exagero classificá-lo como fora de série.
Apesar de seu ritmo de produção meio paulistano, que beirava a inconsequência, ele não negava sua origem carioca: “meu caminho pro trabalho é um pouco mais comprido: eu vou sempre pela praia, que é muito mais divertido”.
Aí, não sei bem o motivo, ele sumiu de cena. Dedicou-se somente à publicidade, escreveu livros. Li um deles e, a não ser por algumas influências ideológicas que o tornaram um pouco tendencioso, pude constatar que ele também era um ótimo contador de histórias, daqueles que têm o dom de nos colocar “dentro” de suas obras.
Suas apresentações viraram bissextas. Não sei se a mídia o esqueceu; se ele não soube adaptar-se ao gosto duvidoso do mercado fonográfico atual; ou se, simplesmente, ele cansou da rotina de shows que o superexpuseram nos meios de comunicação.
Então, ele, Sá e Guarabyra resolveram rejuntar os trapinhos: show!
Logo em seguida, ele fez apresentações individuais; trouxe o parceiro de primeira hora, Tavito, de volta ao mesmo palco; lançou a filha, como compositora e intérprete; dançou ritmos latinos com a desenvoltura e o “swing” de um bailarino de mambo: “Soy latino americano e nunca me engano”; usou e abusou da voz, sempre potente; brincou com a platéia; anunciou novas parcerias... Zé Rodrix estava de volta, abrindo novas portas, pronto para voar!
Aí, vem a notícia: Zé Rodrix nos deixou...
Ele nos fez sonhar, “viajar” sem sair do lugar, a não ser para dançar. Bem que ele podia ficar mais tempo conosco, mas ele sempre decidiu seu caminho.
Lembrei, então, da letra de uma de suas músicas que eu mais gosto. Seu contexto era outro, mas creio que cabe perfeitamente nesse momento em que ele nos deixa, mais uma vez, órfãos da música brasileira de qualidade: “A porta estava aberta e, por mais triste que seja, eu não quero nem tentar lhe segurar... Abra as asas, e pode voar. Boa viagem!”.
Adeus, grande Zé Rodrix! 

Adilson Luiz Gonçalves

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