O termo e o projeto Teatro do Oprimido são portadores de ambigüidades: teatro representado para os oprimidos ou pelos oprimidos? Projeto terapêutico (psicodrama, político-terapia)? Projeto pedagógico? Seria muito cômodo, para os "especialistas" e para a instituição teatral, situar o Teatro do Oprimido entre o "Happenning" e o "Agit-Prop", entre o anarquismo e o "stalinismo evangélico". Analisar o T.O na perspectiva de uma problemática mais atualizada, sua vertente terapêutica e política, a coabitação de ambas, no interior de uma mesma poética, autorizar-nos-ia a falar de "uma lógica da personalização dos problemas sociais", "despolitizando" o movimento inicial? Seria possível conceber a existência de uma atividade educativa isolada de uma outra artística, ou de uma terceira terapêutica, sem proceder de forma redutora e fragmentária?
Augusto Boal, artista, "militante ativo", presidente dos Centros de Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro e Paris, varia seu projeto em função dos espaços, das circunstâncias, das pessoas e suas demandas, porém, preserva intactos os dois principais objetivos da Poética do Oprimido:
- "Transformar o espectador, ser passivo e depositário, em protagonista da ação dramática";
- "Nunca se contentar em refletir sobre o passado, mas se preparar para o futuro".
Na origem, considerando o contexto latino-americano, a poética do Oprimido investe no combate à dupla opressão (individual e coletiva) exercida no teatro e na sociedade. Liberando o espectador da sua condição de espectador, ele poderá liberar-se de outras opressões, acredita Boal.
Antonia Pereira Bezerra
Texto na íntegra em: http://hemi.ps.tsoa.nyu.edu/por/seminar/brazil/antonia.html