A MORTE DE LIÊDO MARANHÃO

Um fato importante marcou a semana passada: a morte de Liêdo Maranhão.
Contava Liêdo que na mocidade, atendendo a um convite de Naíde Teodósio, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, onde militou até depois do golpe militar de 1964, chegando inclusive a ser Secretário de Finanças do Diretório Municipal, fazendo uma ponte entre o partido e o Movimento de Cultura Popular do Recife, durante o primeiro governo de Miguel Arraes.
Nos últimos tempos, porém, dizia-se apolítico e decepcionado com os rumos da política partidária. Afirmava que o fim da União Soviética foi uma coisa que marcou negativamente a sua crença no socialismo.
Na sua casa, no Bairro Novo, em Olinda, construiu um verdadeiro museu de arte, além de uma biblioteca impressionantemente organizada. Um dos seus maiores receios era o destino que tudo isso tomaria após a sua morte. Costumava dizer que os maiores inimigos dos livros não são as traças, mas as viúvas.
No seu acervo mantinha uma imagem em tamanho natural do ex-governador Miguel Arraes de Alencar, por quem, nos últimos anos, exercitava uma profunda aversão. Gostava de se deixar fotografar dando uma banana para a velha raposa política, também já falecida. Também mantinha uma profunda aversão pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Partido dos Trabalhadores. O seu último ídolo político, inclusive, era o ex-presidente Fernando Collor de Melo.
Embora fosse uma pessoa de boa formação cultural, que gostava de declamar Baudelaire em francês e os poemas Augusto dos Anjos, Liêdo achava-se mesmo era um escriba dos excluídos, um escritor porta-voz das ideias e do modo de falar do povão.
Uma vez, nos anos 90, fomos a Beberibe fotografar Aninha, como Liêdo a chamava, uma negra linda que vendia temperos em uma barraca na feira. Aninha era uma figura simpaticíssima e estava radiante com a ideia de ser fotografada para uma capa de livro de Liêdo. As fotografias ficaram ótimas, pois Aninha era realmente uma bela mulher perdida entre os demais feirantes. Só o olhar clínico de Liêdo conseguiria perceber isso. Hoje, não lembro mais qual foi o livro que Aninha ilustrou com a sua beleza.
Uma única vez cheguei a vê-lo tocando pandeiro. Foi no Bar Savoy, também nos anos 90. Liêdo lançava o livro “Cozinha de Pobre” e acompanhou o sebista Gilberto que tocava o sei violão abrilhantando a festa.
Com a sua simplicidade, podia ser encontrado aos domingos comendo uma galinha de cabidela no Mercado da Boa Vista. Ou, durante a semana, comendo um bolo de milho em uma pequena lanchonete próxima a Praça do Sebo, que era um dos seus redutos preferidos.
Simples, Liêdo Maranhão era assim.

Clóvis Campêlo

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