AQUELES DOIS MINUTOS FATAIS

Dizem os peritos que foram dois minutos o tempo entre a tentativa de descer no aeroporto de Guarujá e a explosão do avião que levava Eduardo Campos e seus companheiros.
(São passados já 15 segundos desde que você começou a ler esse texto. E quando completar dois minutos, e o texto terminar, sete vidas desaparecerão, o destino do país sofrerá um abalo e estaremos recolhendo seus pedaços na cratera deixada em nossa alma).
O avião não pôde descer na pista e já arremeteu para o acaso. Chove e venta. Súbito, a intranquilidade e o mêdo irrompem na cabina. Olhares se buscam sem explicação. O piloto vai fazendo a curva ( já se passaram 35 segundos) , mas observa que uma das turbinas está em chamas. Ele nunca saberá se foi um pássaro suicida ou algo na fiação elétrica . O inexplicável se precita numa sucessão de imagens : família, política, projetos, se embaralham num só pânico. E tudo treme enquanto o avião vai perdendo altura. O piloto, fala algo com o copiloto ou com a torre de comando, eles sabem, mas também não sabem o que fazer nessa fatídica sucessão de azares. Já não há o que fazer. Instintivamente o piloto devia-se dos prédios onde pessoas e famílias descuidadas não sabem que a morte lá vem com seu estrondo e fogo. Ao piloto cabe escolher confusamente o lugar da morte para todo o grupo. Projeta-se em chamas. Vai rasgando telhados e paredes. E tudo é uma explosão e tudo é notícia que se estilhaça na alma e nas manchetes do mundo inteiro.

Affonso Romano de Sant'Anna

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