DANÇA DO VENTRE (*)
Há pouco tempo, assisti a uma apresentação de “Dança do Ventre de Senhoras Aposentadas”, numa comemoração de uma instituição de Previdência, que me comoveu.
Não eram senhoras cinquentonas afogueadas ou exibidas, mas todas mulheres acima dos setenta anos, sem tentar camuflar as marcas do tempo, assumindo a terceira (já para quarta) idade, mas com uma alegria, um empenho, uma união e seriedade que dificilmente se encontra nos mais jovens.
Elas estavam a caráter, porém com trajes discretos, e cobertas por véus e kaftans, bem maquiadas, penteadas, descalças e esplendorosas. Os passos bem ensaiados, juntas, ali, como um grupo de amigas atemporais, deram seu recado, mostrando que não há limite de idade para se ser feliz ou simplesmente alegre.
Não percebi nessas mulheres o desespero de enganar o tempo, muito menos o ridículo de quererem aparentar o que não são. Não! Nada disso! Estavam ali se divertindo, brincando, exercitando a feminilidade, que não se perde com a flacidez ou a mudança física. Eram almas femininas e extremamente sensuais na inocência, na alegria, na integração de mente, corpo e espírito.
Como era uma apresentação em local público, naturalmente várias pessoas riram delas, debocharam de seus ventres flácidos e sem atrativos eróticos, ventres esses que já deram muito prazer, já acomodaram e protegeram muitos dos homens que poderiam estar ali. Mesmo esses, que inicialmente hostilizaram as doces e lindas damas, ao final as aplaudiram veementemente, porque perceberam a mensagem que estava embutida em cada passo tímido, em cada trejeito com as mãos enrugadas, em cada sorriso livre de máscara, numa entrega ao simples festejo de poder caminhar, dançar e encantar.
Aquelas senhoras lavaram minha alma, por vezes conturbada com a ameaça do tempo que passa, com os problemas que chegam e vão, com a lei do inquilinato da vida, que vem cobrar o aluguel e avisar do futuro despejo.
Elas simplesmente dançavam ao sabor das batidas marcadas da música árabe, como suaves borboletas bailando no ar, com seus pezinhos pequeninos, suas mãos de veludo e seus olhos de esperança, sua homenagem à vida.
Que suas vidas sejam sempre uma linda dança do ventre!
Salem Aleikum! (Que Deus as abençoe!)
Lílian Maial
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(*) E. A.: Mais que simples movimentos de quadril, a dança do ventre é uma manifestação que permite à mulher redescobrir as suas forças femininas que o dia-a-dia e a repressão trataram de esconder.
É uma dança milenar que seguramente já existia na época dos faraós, onde as mulheres dançavam para louvar divindades femininas.
Com origem sagrada, esta é uma dança de celebração, em que comemoramos nossas alegrias. Ela é, acima de tudo, uma linguagem que usamos para interpretar as belas canções árabes que falam de amor, alegria e paixão. Através desta dança podemos expor sentimentos que encantam; aprendemos com o corpo e com o olhar a falar coisas que nem o mais habilidoso poeta consegue transmitir.