Descompassos

                    Vivo manhãs de sol que não  mais refletem o  antigo brilho, desfolho flores  que se despiram das cores de aquarela, e sombras insistentes me envolvem, desde que, numa fração de minuto, ele se foi, sem proferir palavras, sem acenar adeus.
                    Pôr-do-sol sem poesia,  ondas do mar revoltas, como meu coração. Pássaros  que já não  mais me despertam com seus cantares. Vazio...    Nada  espero, mas não me aquieto, imersa  na tortura de saber-me esquecida. 
                    Esperança sempre me pareceu coisa sem sentido. Restam-me, então, lembranças de carinhos, de mãos  que sempre traziam calmarias. Nunca mais!  
                    Dói a  saudade, mas nada peço aos céus, senão que cerrem,  de uma vez por todas, as cortinas de uma vida, agora sem sentido, monocromática, sem  amanhãs. O que foi feito da alegria que teci amorosamente para os dias que nunca chegariam a existir para nós? 
                    O  orvalho se mistura às lágrimas quando,  subitamente, vislumbro  estrelas que se misturam ao convite inebriante do bailado das ondas do mar.  Simulo vôos.  Chegarei a algum lugar.

Belvedere Bruno

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