DO CAOS AO COSMOS

Por que dificultamos tanto a vida? Como permitimos que a mediocridade avançasse a galope nos últimos tempos? Parece que a humanidade traz em si, latente, uma sordidez que, de tempos em tempos, explode, assim, do nada. Basta uma palavra, um movimento, um sorriso, uma opinião diferente. Não podemos protelar as tentativas de solucionar os problemas surgidos ou ressurgidos. Se a inteligência humana avançou, se a ciência e a tecnologia operaram maravilhas, qual a razão de nos matarmos por questões menores, fúteis, por diversidade de opiniões? Teremos algo mal resolvido em nossa ancestralidade?

A diversidade é uma bênção, não uma maldição. Não há duas pessoas iguais neste mundão de Deus; nem somos iguais a vida toda; nada é igual no minuto seguinte ou ao que passou; nada persiste imutável ao longo do tempo. Somos diferentes e essa máxima deve ser sempre levada em conta: diferentes crenças, raças, gostos, gestos, estilos de vida, talentos, filosofias, cores, sabores, comportamentos, egos, tipos físicos. A convivência entre pessoas e povos depende disso, mesmo porque estamos todos no mesmo “barco”: caso ele “afunde”, não haverá ninguém para contar a história.

O segredo é a eliminação da desorientação cultural porque, enquanto o mundo separar o “nós” e o “eles”, enquanto houver exclusão, não teremos paz. Não sou melhor nem pior que nenhum outro dos seis bilhões de habitantes da Terra; sou, apenas, diferente. E o que abalar uma só dessas partes, uma só delas, abalará toda a unidade. Daí os conflitos, as convulsões sociais, o ódio, o preconceito, a negação das diferenças entre os seres humanos. Deve haver um movimento energético entre todos nós; é ele que nos leva ao equilíbrio e à Paz. A essência da Paz é a superação das desigualdades e é aí que não dá para entender: aceitamos as desigualdades sociais, financeiras, profissionais, menos as individuais, de raça, credo e cor. Assim, a convivência entre as diferenças fica muito difícil! O movimento de um para outro ser humano é único: não existe o movimento nosso e o dos outros: tudo tem a ver com tudo! Essa é a consciência da interligação entre todos nós.O equilíbrio é a mínima igualdade entre forças opostas, que vem do movimento e leva à Paz. Essa compreensão é necessária e só a conseguiremos através da informação, do conhecimento e da sabedoria. Porque Paz é muito mais do que, simplesmente, ausência de conflito.

Ao compreendermos, pela percepção, o que acontece, adequando nossos movimentos às necessidades do nosso semelhante, deixando-o expressar suas convicções, e ocupar o seu lugar na coletividade, estaremos contribuindo para um mundo melhor. Todo problema gerador de mazelas físicas, sociais e morais é uma questão de envolvimento. De falta de envolvimento com o outro. Perdemos energia preciosa tentando tirar as oportunidades do outro porque nos achamos detentores da “verdade”. Que verdade é essa num mundo cheio de multiplicidades, onde tudo é relativo? O que é bom ou certo para mim, não o será para João. E daí? Que João encontre o “seu” bom, descubra a “sua” verdade!

A humanidade chegou a um impasse: atingimos um alto grau de saturação chegando ao ponto de não termos mais nada a perder, de estarmos sem saída. Será que, na iminência do desastre total, encontraremos o ponto de fé dentro de nós, a faísca criativa que nos anima, e teremos Paz – o único caminho possível que levará o mundo do caos ao cosmo?

Neiva Pavesi

1º lugar no III Concurso de Crônica - 2006, realizado pela: ABrasOFFA (Unesco) e Contemporânea Eventos Culturais Santos/SP.

« Voltar