Tratamento da enxaqueca
Impulsionado por terceiros lá fui eu à consulta com o médico que me livraria das dores de cabeça que sofro desde que me entendo por gente. A foto ao lado, aos 4 anos de idade, não me deixa mentir
. – Evite macarrão, pão, salame, pizza, chocolate, vinho, amendoim, cerveja, sol, luz em excesso, perfumes fortes, barulho, comer demais, comer de menos. Evite aborrecimentos, emoções fortes.... e por aí vai. Olhei para trás procurando uma outra pessoa dentro do consultório a quem o médico pudesse estar passando aquelas recomendações todas. Talvez um defunto ou uma estátua. Não havia ninguém. Era comigo mesmo que ele estava falando. Um pouco preocupado com a quantidade de restrições, resolvi esclarecer uma dúvida:
– Mas essas prescrições são para agora, enquanto estou vivo? Ou devo segui-las somente depois de morto?
- Sei que é difícil, mas garanto que isso vai livrá-lo das dores.
- Entendo.
Deixei o consultório com uma série de recomendações e um punhado de pedidos de exames. No elevador o ascensorista sorri: Bom dia! Não respondi. Fiquei olhando para ele, em silêncio, e tentando lembrar se o médico tinha dito algo sobre os riscos de responder a um bom dia. Saí do elevador sem conseguir responder. Lembrei-me das minhas dores de cabeça e de todos os belos momentos que tínhamos vivido juntos. Ao ver a primeira lixeira depositei todos os pedidos de exames e também todas as prescrições restritivas. Ainda não estava pronto para uma separação tão brusca e, principalmente, para tantos e tão insuportáveis sacrifícios.
A vida é realmente bela!
Osias Canuto