DRAMA GRAMÁTICO
Todas as respostas procuravam suas interrogações. Soltas no tempo e no espaço não vislumbravam sua utilidade num mundo sem perguntas e vagavam pelas noites cobertas de reticências enquanto suas vírgulas arrastavam a frase sem ponto final.
Exclamações corriam feito criança em torno das respostas deixando-as tontas e só por isso agarravam-se à um travessão fincado no meio do caminho.
A arrouba solar resplandecia uma nova página e as vírgulas carregavam os pontos na cabeça, como a descer ladeiras para lavar o parágrafo e as respostas mais do que cansadas eram delicadamente amparadas pelas aspas voadoras tal qual borboleta que reconhece vida.
Assim, após décadas de sulfites, sem acentos agudos de ópera ou circunflexo de espelhos de única face, faleceram as respostas. Foram enterradas na contra-capa com todas as honras entoadas por asteriscos luminosos.
O espetáculo fúnebre das respostas foi interrompido por uma pergunta que chegava célere em parêntesis de corrida rodeada de interrogações que bailavam loucas pelo ar.
O tempo gramatical havia sido cruel: por uma orelha de página não virada as interrogações ficaram perdidas para todo o sempre no final da questão.
Paula Cury