Coimbra, 20 de Julho de 1969 — O homem desceu na lua. Ensacado num fato especial e de foguetão no rabo, tanto teimou que conseguiu pôr os pés fora da terra. E lá anda aos saltos, a lutar com a imponderabilidade, ridículo mas triunfante. Como é natrual, vivi intensamente as diversas fases da viagem, e foi num misto de alívio e orgulho que ouvi a notícia do seu desfecho feliz. Agora, porém, passada a ansiedade e o entusiasmo, sinto-me triste. Que monótonas e desconsoladas aventuras nos restam no mundo! Primeiro, comandadas por computadores; depois, em vez de sonhos de arredondamento da fraternidade, propósitos objectivos de alargamento da solidão...
Miguel Torga
Do livro: Diario - XI, Editora do autor, 1973, Coimbra