Assim acaba o mundo
"O homem é um ser perturbado que perturba a natureza, tentando moldar as formas de vida à sua própria forma". (Miguel Angel Batet, teósofo e bispo da Igreja Católica Liberal). O que é o sentido da vida? O que estamos fazendo com nossa vida e nossos corpos, neste planeta que transformamos em uma casa em chamas? Quando as catástrofes climáticas tornarem infernal a vida em vastas regiões da terra, de nada adiantará bater às portas das Nações Unidas, e entrar com uma reclamação formal.
Lord Tenyson teria dito: “Calemos o grito do progresso”. Já naqueles tempos inocentes, ele previa o custo sombrio de tal berro retumbante. Se, na sua época seu anseio era urgente, hoje é de urgência urgentíssima, uma vez que nossa casa planetária arde, em chamas. É mais que sabida nossa capacidade de produzir desastres em escala planetária. O celerado animal humano, possuído pelo ego lógico cartesiano, tornou-se capaz de destruir sistemas ambientais inteiros, para aumentar seus lucros, mesmo ao custo de guerras insanas, para vender suas armas.
Pode ser chamado inteligente o animal que incendeia a sua casa (a única em que pode morar?). Quem sabe, depois de destruí-la completamente, vá pensar em morar em Marte, Vênus ou Saturno – o planeta que devora seus filhos, ao contrário da Mãe Gaia, que os alimenta. "O conflito do indivíduo é o conflito do mundo". Assim falou J. Krishnamurt, um dos profetas da Nova Era. Para ele, somos a vida do mundo, e o que separa uma existência de outra são formas, apenas. A Vida, assim como o mundo, é uma só. Espaço é onde se encontram as formas de vida - e onde elas podem se desenvolver.
A destruição dos recursos naturais da terra parte do ego econômico. Assim, só o ego ecológico poderá deter a marcha da destruição, ao construir um mundo em que o lucro não será colocado acima de todas as coisas – incluindo o preço da destruição e predação dos sistemas de vida. Lester Brow reflete sobre isto em seu livro “Ecoeconomia”: Talvez não exista um desafio tão essencial à sobrevivência da vida como esse, a que os economistas são chamados. O psicólogo Marco Aurélio Bilibio enfatiza, em palestra no canal televisivo União Planetária: “O ego lógico é o responsável pela insana marcha da destruição que ameaça a sobrevivência dos sistemas de vida do planeta terra.
Para Lester Brow, as teorias econômicas não se preocupam em deter a extinção veloz de inúmeras espécies animais de nossa casa planetária. Uma economia assim tão predatória caminha para sua própria destruição, junto aos sistemas de vida que agride. Se houve, antes, uma evolução com grande custo de vidas (o paradigma do progresso a qualquer preço) é preciso que se faça um esforço coletivo inverso, no sentido da compreensão e aplicação de um novo paradigma: o da economia que inclui a preocupação com a defesa da vida onde e como ela se manifeste.
É preciso ampliar a sensibilidade, de forma a sentir a Vida como sendo única, e o mundo como um só: o mundo que somos, e aquele em que podemos nos tornar. Então, não nos sentiremos como eus separados, mas como quem se acha dentro de um cálice, que transborda. O mundo, então, não mais existirá como limite de um eu. Veremos a vida como perpétuo movimento, desde o invisível átomo, aos grandes corpos celestes. Tudo isto é a vida. Nada mais do que isto. Tudo o mais é mera ilusão. "No universo, o movimento é o dado essencial - a base de toda transformação". (Paul Klee)
A paz do mundo depende da paz que exista em cada indivíduo. O conflito em que se debate o mundo é reflexo do conflito das pessoas, que vivem em guerra dentro de si mesmas. Os conflitos étnicos e religiosos, que resultam em guerras fratricidas, são o resultado de sua fragmentação emocional, e da infelicidade que vive a construir em si, de forma a torná-la contagiosa.
O que toma de assalto como violência e desolação a solidão do mundo e o coloca em permanente luto, é resultado de suas crenças doentias. Não é só a pecúnia o seu pecado - é o ato falhado com que a humana criatura passa ao largo de sua existência. Como poderia viver em um mundo de paz quem alimenta guerras fratricidas dentro de si mesmo?
Assim acaba o mundo, assim acaba o mundo - não como um gemido em um cortejo de absurdos, mas com a revelação da falácia das ilusões. E o que assim acaba é como bolha de sabão a se perder no infinito nada de onde tudo nasce.
Brasigóis Felício