Ser sem atributo

Pensar no “com” o “entre” e se afastar definitivamente do “sobre”.

Todo “sobre” se move num duplo e na denegação da dobra.

O conhecimento pelos atributos, o saber sobre, é o próprio esquecimento do sentido do Ser.

Ser é memória. O sentido é a memória do Ser. E memória é a unidade do que foi, é e será.

(Ser o sendo) É sempre o desafio e apelo de ser o próprio. (...) Realizar o próprio é a travessia do Ser.

Nesse horizonte (e não numa perspectiva teórica), a época não pode ser fruto de uma historiografia atributiva, mas o originário do inaugural. O pensador não repete, para o certo ou para o errado, o que nelas se diz. Traz para o questionar o que nelas é a “questão” e assim nos provoca a pensar também o que, no que ele diz, é digno de ser pensado por nós: a questão. É que a época, toda época, é o entre-acontecer poético do Ser. Por isso, a Poética é o entre-acontecer do poético, da questão, ou seja, do originário do inaugural, um inaugural que se torna para cada “sendo”, enquanto entre-ser, “a questão”, a questão da referência de Ser e sendo.

“Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho ...” (Rosa, 1968:47). (...) Colher com todos é dialogar. É nesse horizonte que devem aparecer as “obras-caminhos” de Heidegger e de todos os grandes pensadores e poetas: como caminhos dialogantes que convocam ao diá-logo com e a partir da questão.

O desvio fundamental do atributo nunca está no atributo como tal, pois os atributos do sendo nunca podem ser negados. A questão está em que, na retórica e sofística metafísico- proposicional e lógica, o atributo se atribuiu o lugar da verdade do ser.

A caminhada de Riobaldo é o caminhar por entre os entes e o Ser, para chegar a ser o que é. A sua caminhada é a nossa caminhada, pois Riobaldo é uma personagem-questão.

Mas o que é viver? É que para a travessia não basta viver. Além do verbo viver há outros três que ditam o alcance do homem humano: conhecer, ser, amar. É em torno dos quatro verbos que o questionar questiona. Mas este não é algo sobre, de fora. Não. Questionar é escutar a voz que os convoca e nos convoca.

Mas não devemos confundir re-ferência com relação.

E então chegou a hora e a vez do acontecer poético-apropriante.

Manuel Antônio de Castro

« Voltar