OUTONO NO RIO

As folhas amareladas de um outono atrasado vão modificando o cenário das calçadas e parques da Cidade Maravilhosa. Elas traduzem o desencanto de uma população traída que deu ao ex-metalúrgico o maior número de votos na última eleição presidencial. Mas chegará à primavera e depois o verão, com um calor no coração, mergulhando no piscinão, afagando um pit Bull ou rezando na Universal para o casal garotinho. E tem também o PAN na Vila Olímpica e o RA TÁ TÁ TÁ na Vila do João com corre-corre na Linha Vermelha e mais um recorde batido na violência. Mas o Rio é assim e no horizonte bem para trás das Ilhas Cagarras rolará um por do sol para o aplauso da Galera.

Eu aplaudi o discurso do Lula na Candelária, em 89, pelas Diretas Já. Sofri com o lunático do Collor e o fanático socialista intelectual que também comprou o Congresso para sua reeleição e sucateou as estatais. Brizola morreu, morreu o Arraz e até o seu Saraiva e agora quero ver ficarmos calminhos achando que o Sapo Barbudo era o maior idiota e não sabia de nada, enquanto o ex-líder estudantil dos Anos 60, comandava o maior assalto aos cofres da nação. O engraçado é ver o Abi Ackel presidindo a CPI do Mensalão, pois quem não tiver culpa no cartório que atire a primeira pedra de esmeralda. O resto é besteira, mas ainda tem tempo do carequinha botar a boca no trombone e contar tudinho.

Diz aí Waldir, por que os caras fizeram aquele trabalho de cinema no cofre do Banco Central, em Fortaleza e estão sendo presos? Digo que tudo é ligado à cultura. Até para roubar e não ser pego tem de ter cultura. Tá certo que o buraco deles foi mais embaixo e não estudaram em Harvard e nem chegaram à presidência do Banco Central, mas podiam ter sido menos afoitos e esperar que a coisa esfriasse para comprar uma cegonha cheia de carros. Podiam ter comprado umas terras em Goiás e enterrado a grana toda lá até que o Meireles se explicasse à Receita Federal.

Como vai ficar tudo isso depois? Tem de acabar com as pequenas legendas de aluguel, porque se não vamos continuar fabricando os Waldemares que acabam gastando a grana do povo nos cassinos do Paraguai. São tantos milhões em malas indo daqui pra acolá sem que você perceba que ao seu lado pode estar viajando algum Zé carregando uma montanha de dinheiro a qual você levaria 24 mil anos para ganhar honestamente. Se ainda tem alguma árvore aí perto de ti atirando às suas folhas de outono no chão, talvez haja esperança de você entrar numa primavera bastante florida e cheia de graça, onde o sonho de uma vida melhor para todos ainda possa existir.

Luiz Carlos Pires

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