Confissão
Para mim, a poesia é uma espécie de compulsão, vício, sem atributos de sentimentos nobres.
Repetição esquizóide como o narcicismo primário das teorias que descrevem o primeiro ano de vida. Acrescenta-se a isto vocabulário. Nada mais. Não gosto de poesias. Não sou poeta. Escrevo por compulsão. Como os autistas. Não os artistas, que estes sim, são nobres.
A repetição do gesto, no meu caso, escrever, adia os enfrentamentos e o medo, imenso, indescritível. Creio que a isto se chama pecado original.
O que falo do sentimento, nada tem a ver com o que vivo, se é que vivo...
Na verdade, eu queria ser surfista. Dadas as impossibilidades de tempo e espaço, nasci em Minas e passei dos 50, quem sabe em Porto Seguro eu aprenda a mergulhar, que é como dar os primeiros passos para fora de montanhas em mim, que me impedem de ver o horizonte. Daí sonhá-lo imenso, o que me torna indigna. Daí o medo. Daí o escrever repetitivamente.
Poeta bom, em Minas fica sistemático, por isto bom.
Sistemático é uma palavra curinga, que em Minas serve para dar nome, se não der para fugir, a qualquer ação constrangedora: sistemático pode ser igual a disciplinado, digno ou doido de pedra.
Minas é um lugar para se nascer provar da comida, olhar aquela maravilha, guardar no peito. Coração de mineiro já nasce moído de amor. Depois partir e morrer de saudades... Criar casos, descasos e aí sim, virar artista.
(Para Helena Armond, mineira de Muzambinho, Affonso Romanno de Sant'Anna, mineiro de Belo Horizonte , como eu ,Nathan de Castro de Patrocínio que mudou-se para Uberlãndia achando que era São Paulo , Wtfa de Araxá e Célia Lamounier, escritora normal, em Mimas, pois toda regra tem exceção)
Elane Tomich