EU SONHEI QUE TU ESTAVAS TÃO LINDA

(título homônimo ao da letra de Lamartine Babo composta para a opereta de Francisco Mattoso, segundo Almirante)

Aposentada, quase viúva de marido vivo, Eutália ouve, ao longe, a voz de Lamartine a dobrar a esquina. Canta. É a mesma falsa valsa antiga com os pés na serenata. Não, Lálá nunca esteve em Viena.

Sacada! Ignoro por completo a artrose e o reumatismo. Salto. Aposentada, abandono a cama usada para assisti-lo em seresta. Quarenta anos de atraso!

– Lálá, Lálá, Lálá!... – calçada, decreto o fim da era dos chinelos.

Calçada. Lálá, sem mais a máscara de Arlequim, sorri de saudade. Tira do bolso um lenço, põe sobre o rosto, e coloca seus óculos em posição de óculos. Lenço com cheiro de lança-perfume por sob os aros tartaruga. É o Lálá, é o Lálá, é o Lálá! Ouço marchinhas. Voltei àquele carnaval de quarenta anos atrás!

– Olha o careta! Olha o careta! Olha o careta!... – disfarça a voz.

Ah Lálá palhaço, Lálá poeta, Lálá careta, Lálá folião! Choravas, sem motivo, em todas as quartas-feiras de cinzas.

– Olha o careta! Olha o careta! Olha o careta! ... – sem disfarce na voz.

Terminaste a minha valsa? Compuseste-a para mim em pleno domingo de carnaval. Valsa com um pé na serenata!... Estavas na Áustria?... Ainda sabes beijar as Colombinas? ...Ah, Lálá!... Respingas confetes e cheiras a lança-perfume. Te saúdo com serpentinas.

Djalma Filho

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