O carnaval continua lindo

              A intenção era assistir aos desfiles pela tv, especialmente os do Rio. Dá uma saudade... Aproveitar os dias lendo, fazendo palavras cruzadas, conversando ou comendo uva e figo no fundo do pátio. Um telefonema mudou tudo. A neta chegará daqui a algumas horas. O que faz uma criança...

              Na gestação, vai apertando os órgãos, pedindo espaço para crescer. A coluna mudando de eixo, adaptando-se à novidade. Todos os dias uma sensação nova. Enquanto isso, a casa transformando-se. Roupas miúdas e quantidade de fraldas fazendo volume no quarto. Isso quando as fraldas descartáveis não tinham chegado, agora quase que precisam de uma peça para armazená-las. Depois, o nascimento e sentir-se a própria vaquinha — enche, esvazia. Um fenômeno para mamas pequenas. O crescimento do bebê, as primeiras gracinhas, as preocupações com febres e um sem número de atividades colocando-o em primeiro lugar.

              Os bebês crescem depressa e quando nos damos conta já estão indo para escola, lendo, e agora, acessando. Com os filhos não tive que lidar com a informática, até a puberdade. Neste novo tempo, os netos são noticiados pela internet, a maternidade tem site e em todo canto do mundo podem ver mais um habitante da Terra. Acompanhamos o desenvolvimento mesmo à distância, em tempo real, ouvindo os chorinhos e as primeiras palavras.

              Neste novo tempo, os avós precisam estar atentos aos códigos da tribo reinventando o idioma. Que sempre existiram, só que em ritmo boca a boca, no ócio das férias, a beira-mar. Tá ligado? “entendeu?” Sussa. “sossega” Vencem uma competição musical no youtube !!!

              Tempo de vídeos e kids canais que não eliminam a possibilidade de ouvirmos “conte mais, vovó”, “ mais uma, vovô”. Os pimpolhos entrando no mundo da imaginação pelo som de quem os ama profundamente.

              Mostrei algumas fotos da vovó fantasiada em Itacuruçá e junto aos bonecos gigantes de Olinda... Folheava o álbum emitindo muxoxos e risos. Sentamo-nos no chão para assistir a reprise dos desfiles. Sem falar, arregalou os olhinhos quando a águia azul apareceu, o tigrão com tecnologia de Parintins encantando o Rio de Janeiro. Chegou a bacia cheia de pipoca. Tudo muda e continuamos os mesmos, humanos precisando da beleza do aconchego, mantendo a razão de viver.

Sonia Alcalde

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