Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), de Leo Santana, com um verso do poema "Mas viveremos"

POESIA... Quando revelar ou ser reflexo?

            Jorge Luís Borges escreveu que “... a poesia não é alheia, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante. E a vida tenho certeza é feita de poesia”.
            
Como fazer para que as pessoas percebam que vivem a poesia e se importam com ela? Que sentem o reflexo de um poema? De onde vem a inspiração, na revelação das palavras? Quando a inspiração permite a revelação?
            Devia ser tarefa simples para o escritor que conhece os passos da estrada. Mas, não é assim; Clauder Arcanjo nos revela em seu poema “A dureza de um verso” :

“O verso mais doído
é o verso não proferido.
Aquele que entala,
estrala, arma-se, rala...
mas não se impõe.
O verso mais sofrido
é o verso não escrito.
Aquele que, (mal) criado,
nega-se, cala-se... e silencia.
Espia, se inicia, punge...
contudo não grunhe.
O verso mais fatal
é o verso não lido.
Aquele que, disposto,
se apresenta; arrebenta,
experimenta, inventa...
porém ninguém o lê.
A dureza de um verso, poeta,
é a maciez do seu reverso”.

            Seu poema reclama da “entresafra da criatividade” e da “angústia da não-criação”. O escritor reflete que a dureza de um verso é estar “emperrado”, com seu discurso entrecortado, mas a luta pela inspiração pode mudar a sua vida, depende da criação e do criador.
             O trabalho de aprimorar e dominar o verso vale para que o escritor exerça o seu amor às palavras, popularize as expressões e se revele como fonte de inspiração. E cortejar a literatura não apenas com a qualidade indiscutível das letras e, sim, consentir que venham a público os poemas.
            Escrever, produzir, poetizar é cada vez mais precioso, por ser o caminho da liberdade. Acredito que existe vida além desta e que ela está em nossos sonhos. Nascemos para esvoaçar a imaginação, como em Mario Quintana:

“Os poemas são pássaros que chegam
não sabem de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...”

Tânia Du Bois
« Voltar