A CIDADE E O CAMPO

Um dos grandes fenômenos que ocorreu no Brasil há 30 anos, foi o êxodo rural, por falta de política de incentivo agrícola do Governo. Naquela época, desmotivado, o produtor rural via os centros urbanos como a luz no fim do túnel. À primeira vista, o entusiasmo diante da cidade, aos transeuntes, caminhando pelas calçadas, que as suas mulheres possam parar, olhar as vitrines, contemplar o contraste entre o luxo e a miséria e, finalmente, de noite, se perder nos sonhos pela ofuscante luz de néon. Em termos de Brasil, as cidades estão sendo construídas e, muitas vezes, reconstruídas sem propósitos humanos, mas atendendo somente às exigências tecnológicas e imobiliárias. Não surpreende, portanto, o caráter desumano visível.
Descompassadas em seu aspecto arquitetônico, poluídas, auditiva e visualmente, enredadas em suas próprias contradições. Será que um dia, firmaremos um pacto para evitar o risco de deteriorar o ambiente em que se desenvolve a única coisa realmente insubstituível, que é a nossa vida! Há uma certa unanimidade entre antropólogos, sociólogos e geógrafos urbanos, de que em muitas regiões o Estado estrangulou a região metropolitana. Planejamento começa com a prática, e não com seminários, congressos, encontros que se prestam para viagens de recreio, mordomias e pouca ação concreta. Quando o
administrador entra no esquema do viaduto, do edifício-garagem, como solução ao transporte de massa, torna-se evidente que o homem foi derrotado pela máquina. As cidades são o que os administradores querem. Tendência não é destino. A cidade nessa luta contra a falta de um plano diretor, ou, planejamento urbano, tem que agir com urgência.
De qualquer maneira, parece que o brasileiro sonha em viver no campo, pois a situação de 96 para cá se inverteu. Hoje, com tanta estrada, todo mundo viaja de carro, moto ou ônibus, como na inesquecível canção de Sá, Rodrix e Guarabira sobre a casa no campo. Depois que houve a mecanização da vida diária acompanhada com o inchaço e violência da cidade, as pessoas optaram por retornar às origens, saudemos alegremente a sua volta. A linha de São Paulo – Minas Gerais tanto serve para viajantes comuns como para turistas. Uma viagem feita mesmo para turistas, homens sem pressa, lá onde tem a água limpa e cristalina das cachoeiras de Santa Bárbara d´Oeste... Não seria difícil organizar em cada um desses lugares um programa singelo, um almoço, uma pescaria, um passeio a cavalo atravessando as matas.
Sonho com outras viagens dessas para o Norte e para o Sul, penso em pequenos patrimônios e distritos localizados no interior de Minas Gerais -, sem falar nos lugares mais humildes e às vezes tão gostosos -, passar pelo Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ou, voltando para o Rio Grande do Sul, além de conhecer as cidades que rodeiam Porto Velho, em Rondônia.
Até agora apareceram poucas iniciativas particulares que organizam esses pequenos passeios pelo campo; acho que as pequenas prefeituras, em crise financeira, deveriam estimular qualquer iniciativa nesse sentido, pois é na base do turismo interno, conhecido como ecoturismo, feito por brasileiros, que poderemos ter um dia o turismo para gente de fora, a viagem pelas matas selvagens, águas, pelos pulmões e artérias do coração do País.

Rubens Shirassu Jr.

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