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Há uns três anos, se alguém me falasse em amizade virtual eu mandava pentear macacos... Eu ainda acreditava que poderia viver muito bem sem ter um e-mail. Doce ilusão... Morando no meio da mata, na minha fase de ermitão, nem computador eu tinha, como é que eu ia admitir uma relação de amizade sem ao menos um aperto de mão, sem antes olhar bem lá no fundo dos olhos do sujeito? Sem chance!
Já hoje, vejam só, minha lista de amizades virtuais é bem mais extensa do que a dos amigos que conheço pessoalmente...
Culpado disso é meu irmão mais novo, que me convidou prá umas férias em pleno inverno canadense... Com um metro de neve lá fora, eu preferia esquentar minha alma falando com o Brasil pelo MSN do que fazer bonecos de neve com as crianças, que parece que nunca sentem frio...
Acabei caindo na rede (virtual, que fique bem entendido) de uma menina nordestina, que procurava alguém que traduzisse suas conversas com o namorado que morava em Montrèal. Conversa vai, conversa vem, o cara me convidou prá ir à casa dele e ficamos muito amigos. Hoje eles estão casados e sempre me lembram que sou um dos culpados pelo enlace.
Como esse casal, há pelo menos uma meia dúzia de pessoas que conheci pela Internet, que nunca encontrei, mas que não hesitaria em encontrar não fosse a distância. São pessoas que falaram ao meu coração, sem necessidade de outra coisa além da força das palavras sinceras.
Muita gente acha que não é possível estabelecer uma "verdadeira" amizade através da Internet. Que por trás de um perfil pintado de ouro e cravejado de brilhantes, sempre pode haver uma cascavel pronta pro bote.
Concordo, é preciso tomar cuidado mesmo. Mas não é assim também na vida real? A Internet é muito nova e sedutora, e as velhas armadilhas, talvez por virem agora com nova embalagem, exijam da gente uma maior atenção.
E eu gosto da idéia de que a Internet é ao mesmo tempo uma extensão e uma metáfora do próprio homem, com todos os defeitos e qualidades deste. Prá mim, a Internet chegou para atender uma necessidade, é uma ferramenta que está aí para ampliar as possibilidades do homem de enxergar-se a si mesmo.
Chico Abelha