Estátua de Carlos Drummond em Copacabana (Rio), de Leo Santana, com um verso do poema "Mas viveremos"


À POETISA SAFO

Soneto s(er)áfico
Daniel Cristal


Vieste deusa bela ao meu encontro;
de ti recordo o gesto ágil terno,
o olhar paixão, o beijo logo pronto,
na doce oferta do amor eterno.

A taça erguida nesse gesto lindo,
o gesto frágil com a graça ágil,
a prova dúctil do teu ser infindo,
endeusa o servo como presa fácil.

A essa taça erguida sou fiel;
tu deste cor odor ao brilho fosco,
por isso tenho lábios vinho e mel;

Razão me leva a ser poeta tosco:
tu és a poeta deusa, luz brilhante,
amada minha, sol e lua diamante.

02.03.2006


Safo é a maior poetisa lírica da Antiguidade, e, provavelmente, também a primeira mulher a fazer poesia apaixonada na história da cultura ocidental. Nasceu na ilha grega de Lesbos, por volta do ano de 612 a.C.
Sabe-se muito pouco com certezas acerca de esta mulher célebre. Alguns têm-na imaginado de uma beleza escultórica excepcional. Outros, consideram-na pouco bonita. Mas todos concordam que possuía um atractivo pessoal fora do comum, e que, com seus belos olhos pretos, poderia até domar todas as bestas da terra! Não é só esta, entretanto, a razão de sua fama. Filha de família rica, deixou cedo a sua pequena cidade natal de Eresso, próxima à capital de Lesbos, Mitilene, onde estudou dança, retórica e poética, o que era, então, aconselhável só a mulheres da aristocracia. Mesmo de origem nobre, uma mulher nessa época dedicava-se quase exclusivamente aos trabalhos domésticos costumeiros. Safo, no entanto, ... era Safo! Uma mulher de sangue na guelra! Muito jovem já possuía grande notoriedade devido mais a seus encantos pessoais do que à sua arte. Ela mesma dizia possuir uma "cabecinha oca" e um "coração infantil", e tinha uma conduta libertada de preconceitos e inibições.
É conhecida a sua invenção do metro safo, que exercitou na sua obra - o verso sáfico, ritmado para ser cantado ao som da lira. Este verso foi retomado por Horácio que o seguiu à risca em latim com o mesmo efeito e o mesmo acompanhamento musical. Nas literaturas românicas esta métrica sáfica sofreu alterações, com Petrarca, mantendo-se até aos dias de hoje conforme é estudado e exercitado, submetendo-se a outros instrumentos musicais.

Daniel Cristal



...Pois basta ver-te
para que nem atine com o que diga
e a língua se me torne inerte
um subtil fogo me arrepia a pele
deixam de ver meus olhos
zunem meus ouvidos
o suor inunda-me o corpo de frio.

                Safo

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