BEM-TE-VI, BEM TE VEJO

               No imenso quintal arborizado de fruteiras, aquele pássaro castanho de papo amarelo canta alegremente quando eu me levanto pra fazer xixi. Parece que ele me olha do alto da mangueira e grita: Bem-te-vi, bem-te-vi! Aquilo é para mim como a saudação de bom dia dito por um amigo ou irmão. Rio e aceno para ele e fico a observar o ninho na mangueira. A bem-te-vi mãe chega com o bico cheio de alimento e começa a dar para os filhotes.
               Mas, de repente, ouço as galinhas cacarejando aflitas, numa forma característica, tentando proteger as ninhadas de pintos. Olho para a cerca de madeira e vejo um enorme gavião querendo pegar algum pinto pra comer. A bem-te-vi mãe parece ouvir as galinhas, sai voando e produzindo um som demonstrando o seu desespero. E, sem nenhum medo, avança para o feroz gavião.
               Logo em seguida, vem outra bem-te-vi e todas as demais se unem a elas. E, não resistindo ao ataque, o gavião sai voando perseguido por aquelas aves de tamanho insiginificantes.
               E eu, olhando aquilo com apenas seis anos de idade, me perguntava sem entender: Por quê mamãe não botava o meu padrasto pra correr?

Wandercy de Carvalho Lontra