AS BRUXAS DE ITAGUAÇU
Ontem, sábado, tivemos um dia de sol lindão em Florianópolis. Como estamos no período de férias escolares, estava com três sobrinhos aqui em casa. Mais um amiguinho da vizinhança, quatro meninos de idade entre 6 e 10 anos. Resolvi levá-los para passear, que já tínhamos ido duas vezes ao cinema, para ver “O espetacular Homem Aranha” e “A era do gelo 4”. Cá pra nós, eu gostei dos dois, embora o “homem aranha” fosse releitura do primeiro que foi feito.
Então achei melhor sair para um programa ao ar livre. Já lhes tinha prometido ir à praia de Itaguaçu, aqui na parte continental de Florianópolis, para mostrar a configuração das pedras na beira do mar. As pedras, muitas delas, constituem curiosas formações de granito na praia e no meio do mar da Baía Sul. Há uma lenda a respeito e eu já havia contado aos meninos, por alto, para despertar-lhes a curiosidades. Que criança resiste a uma história de bruxas?
Não é à toa que Florianópolis é chamada de Ilha da Magia (não é só a Ilha, na verdade, a parte continental também honra a lenda, e é bom esclarecer porque muita gente pensa que Florianópolis é composta apenas da Ilha de Santa Catarina), tanto que a obra de Franklin Cascaes – dois livros sobre lendas e folclore da Ilha e região – fala das bruxas que teriam habitado esta parte do litoral.
Diz a lenda que, outrora, um grupo de bruxas malvadas tinha o mau hábito de roubar as canoas dos pescadores para fazerem suas festas. Reuniam-se elas, com lobisomens, boitatás, mulas-sem-cabeças, o Curupira, e não convidavam o mestre de todos, o Diabo. Elas o temiam porque ele era muito mau, mais do que elas, e sempre que conseguia aproximar-se delas, maltratava-as muito. Numa dessas festas, as quais a bruxa líder tinha o cuidado de não deixar chegar ao conhecimento do capeta, ele, o senhor das trevas, ouviu a algazarra – gargalhadas e gritos das bruxas – e foi ver o que era. Adentrou disfarçado e pediu alguma coisa para comer. Deram-lhe pão seco e vinagre. Enfurecido, o Diabo, que já estava furibundo porque havia sido traído, resolveu transformar todas as bruxas em pedras. Elas estão lá na praia de Itaguaçu até hoje, vítimas da maldição.
Dos quatro meninos só o mais novo pareceu acreditar um pouco na história, mas ficaram fascinados com as pedras e subiram em muitas delas, inclusive nas mais altas. Tanto que para ir embora, no final da tarde, tive que dizer a eles que não podíamos ficar lá ao anoitecer, pois as pedras viravam bruxas novamente e festavam até amanhecer.
A praia é linda, mesmo, e tem a sua magia.Luiz Carlos Amorim