MÁGICO
Querida, eu não me queixo de nada; desta cartola que me deu, saem mais do que coelhos e lágrimas. Acostumei a ser mágico, afinal assim é o dia que nasce, na pura beleza diamantina;segue em inícios de tarde e avermelha a vista de tanta beleza e vertigem... E você lá, impávida, em seu abracadabra panorâmico, em sua voragem de luz, ensimesmada. Que posso fazer? Talvez trazer à tona um monstro veloz ou um gato de pura lanugem? É sonho, sai uma quimera por vez do fundo, e eu no palco vagabundo tendo de fazer um trato com o tempo, para lhe afagar a face; talvez já não precisasse, eu já não sei se é sonho ou verdade tudo o que você diz, essas coisas que lhe ocorrem. Lendas? Mitos? Seu olhar esgazeado fixa o copo à mesa, na toalha manchada de batom e ferrugem... Mais uma vez tenho de fazer uma alquimia, trazer da sombra um facho de luz e lhe mostrar os caminhos mais estranhos e você aí, parada. Eu? não me queixo de nada, mais nada, meu bem. Só que de mágica, não se vive, nem se constrói um tanto sobre um castelo de cartas. Eu depois de tantos encantos, rendo-me aos tantos foras que me deu, me recolho a um canto, saio de chapéu e tudo e digo: Adeus.
Flavio Gimenez