AS AFLIÇÕES DO MAGISTÉRIO

                   O que se tem para comemorar no “Dia do Professor”? A conquista de melhores salários? A reforma dos cursos de Pedagogia? A volta do respeito aos professores?
                    Sem me entregar aos braços do niilismo, penso que a data não deixa de ser excelente pretexto para reflexões necessárias. Foi o que fiz, ao falar na Universidade Católica de Petrópolis (UCP), a convite do reitor José Luiz Rangel Sampaio Fernandes, para uma interessada plateia de professores e alunos da respeitável instituição, que nasceu nos idos de 1953, por inspiração do bispo Dom Manuel Pedro da Cunha Cintra.
                   Em primeiro lugar, mostrei o espanto ao verificar que, neste ano de 2011, já tivemos 13 greves de professores públicos , em igual número de Estados, praticamente na metade do Brasil. Não foram movimentos vazios, ao contrário, mostraram uma espécie de revolta da categoria contra salários aviltantes e condições de trabalho muito aquém do razoável. Por que um Estado com a tradição de Minas Gerais, por exemplo, teria paralisado o seu sistema por mais de 100 dias? E o Rio de Janeiro por mais de 60 dias?
                   Enquanto se discute a ampliação do ano escolar, que é de 200 dias letivos, não há uma comoção nacional em virtude dessas interrupções, hoje tidas como normais. Como se fosse normal pagar 860 reais de salário a um professor em início de carreira, contrariando inclusive decisões do próprio Governo, que estabeleceu um piso maior, mas que a maioria dos Estados finge desconhecer. Quem paga pelas aulas perdidas, sacrificando o aprendizado dos alunos?
                   Quando terminei a conferência, em que também abordei as metas do Plano Nacional de Educação, houve um respeitoso debate, que começou com a pergunta de uma professora se poderia haver otimismo em relação ao futuro da nossa educação. A resposta foi afirmativa, pois a meu ver não há outro caminho, para assegurar o crescimento definitivo do País. O PNE estima a aplicação de 7% do PIB em educação, o que, se bem aplicados, representam um grande reforço.
                   Vieram outras questões: é possível acreditar no projeto presidencial do livro popular, para ampliar o índice de leitura do povo brasileiro? É claro que sim. Por que insistimos em metas quantitativas quando se sabe, por experiências anteriores, que elas acabam não sendo cumpridas? Tenho essa mesma convicção.
                   “Ser educador é ter coragem. Gostei quando o sr. fez voltar a filosofia ao currículo oficial” – disse a professora Rosane. “Nas suas diversas viagens ao exterior, o que mais o impressionou?” Foi, é claro, a atenção prioritária aos professores. Já o professor Lauro receia que a educação à distância possa amedrontar os mestres brasileiros, opinião com a qual não concordei. E ainda houve uma simpática referência ao trabalho do Centro de Integração Empresa Escola, com os seus bem sucedidos estagiários e aprendizes, inclusive em Petrópolis. Foi um bom encontro.

A ETERNIDADE DO LIVRO IMPRESSO

                   A discussão sobre a sobrevivência do livro impresso está muito acesa. Em parte, é reflexo do que acontece nos países mais desenvolvidos, onde há uma oferta progressiva de e-books. Aqui entre nós, por enquanto, o crescimento é lento. Em todo o comércio eletrônico nacional, não há mais de 7 mil títulos disponíveis. Para se ter ideia da discrepância dos números, só a Amazon conta hoje com cerca de 950 mil títulos.
                    Há um pormenor que é próprio do mercado brasileiro: o Kindle começou com um gás assustador, mas não pegou por causa do preço, hoje em 800 reais. Pelo dobro, pode-se ter um equipamento muito mais completo, que serve para navegar na internet, tirar fotos, gravar vídeos etc. O custo benefício é muito mais atraente.
                   Estamos vivendo uma fase de incríveis conquistas tecnológicas, especialmente no campo das comunicações. O que não significa a morte das versões anteriores. Diziam que o rádio acabaria com os jornais; o cinema acabaria com o teatro; a televisão acabaria com o rádio e a internet acabaria com todas as mídias citadas. Na realidade, nada disso aconteceu. Convive-se com todas essas manifestações, embora se saiba que a escala é outra: no facebook há 900 milhões de membros e o twitter abriga 150 milhões de usuários (o youtube tem praticamente tudo).
                   Vivemos uma fase de absoluta perplexidade, mas um homem com a experiência do Boni, por exemplo, afirmou, em lançamento recente, que a TV aberta tem um longo futuro à sua frente, desde que se renove e passe a programar atrações ao vivo e promover transmissões diretas. Devemos estar atentos a essas peculiaridades, para que nada se perca dessas imensas conquistas.
                   Fala-se muito nos e-books, mas as grandes companhias brasileiras, tipo Livraria Cultura, não passam de 1% do faturamento na venda de livros eletrônicos. Há uma longa caminhada, com um detalhe que me ocorreu na visita feita à Real Academia de Espanha: os autores do seu vocabulário têm 90 mil livros impressos sobre linguística, consultados diariamente. Isso vai desaparecer? Sinceramente, não acreditamos. E a Biblioteca do Congresso Americano? E a da Universidade de Berkeley, onde há uma quantidade enorme de livros brasileiros? Quem preconiza o fim disso tudo, sinceramente, está equivocado.
                   O que se pode prever é que haja, por muitos e muitos anos, uma coexistência pacífica entre livros de papel e e-books, como antecipou o escritor Umberto Eco. Segundo ele, somos 7 bilhões no mundo, mas uma parcela ínfima desse total tem acesso aos computadores. Vai demorar muito para mudar esse quadro. Para Umberto Eco, “temos a prova científica de que um livro pode durar 550 anos. Jamais deixaremos de ter, com essas obras, uma relação física, carnal, afetiva. É muito difícil ler “Guerra e Paz” num e-book. De mais a mais, a internet não filtra nada – e esse é um mal.” Estamos certos de que, na nossa geração e possivelmente em muitas outras, ainda viveremos na boa companhia dos livros impressos.

Arnaldo Niskier