ALEGRIA! ALEGRIA!

Consta que o Carnaval teve origem na Grécia Antiga, por volta do quinto século antes de Cristo, como uma festa de cunho religioso, durante a qual eram realizados cultos de agradecimento aos deuses pela fertilidade e produtividade do solo.

Posteriormente, os mesmos gregos acrescentaram-lhe bebidas alcoólicas e certo liberalismo sexual para, na Idade Média, voltar a ser adotado com festa religiosa cristã, talvez como parte de um processo de sincretismo, só que proibindo o prazer sem limites.

Bem, isso não deu muito certo, tanto que tempos depois o Carnaval voltou a ser uma festa popular, laica, comemorada de formas diferentes, em cada região.

No entanto, afora a discutida origem etimológica da palavra, lá, no início, o Carnaval era uma festa dedicada à celebração natureza pelo que ela nos dá: um festejo legítimo, pleno de justificada e coletiva alegria!

E que coisa boa estar feliz! Melhor, ainda: ser feliz!

Lembro de minha infância e, principalmente, dos filmes da Atlântida e da Cinédia, onde a Festa de Momo era uma divertida fuga da rotina, em que pessoas sisudas, de repente vestiam fantasias e saíam pelas ruas, sorrindo e brincando despretensiosamente.

Era como se gritassem melodiosamente um sonoro "não!" às pressões sociais e religiosas, que, represadas, apertam alguns até espanarem, transformando uns em fanáticos e outros em bandalhos, extremos opostos, mas igualmente nefastos.

E o faziam por quatro dias, então, como se fora proibido ser feliz nos demais. Ou como se felicidade tivesse dia certo para se manifestar. Dias de "pode!" e dias de "não pode!".

A Quarta-Feira de Cinzas era dia de rasgar a fantasia. As duas aliás, a da vestimenta e a da felicidade de uma vida sem preocupações, em que as diferenças sociais desapareciam sob máscaras negras ou coloridas, em que as pessoas se reuniam nas ruas sem se preocupar com aparências, a não ser para admirar pierrôs, arlequins e colombinas, personagens anônimos, mas cheios de encantamento, sobretudo aos olhos das crianças.

Festa do povo, que invadia as ruas com blocos e cordões, a entoarem marchinhas de letras e rimas tão fáceis quanto belas, as fantasias serviam para esconder rostos tímidos, mas, também, disfarçar devassos e maldosos.

Isso não é novidade, pois o cotidiano está cheio de dissimulados, que nem precisam de máscaras para exercerem sua hipocrisia ou mau caráter... Alguns até vestem todos os dias um "manto divino" que, em verdade, é uma pele de cordeiro.

Desses é que devemos ter medo e manter distância!

Alguns transformaram o Carnaval em tempo de desembestar, de "vale tudo"! Outros, em tempo de apertar ainda mais os freios e arreios, de "não pode nada"!

Preconceitos antagônicos transformaram o Carnaval ora em pecado, ora em bálsamo. Uns vão "pro mundo", outros para retiros espirituais, que também podem ser momentos de fuga da rotina, mas, não raro, são imposições preconceituosas ou arrogantes, que têm por objetivo manter o rebanho no cercado.

Tem quem brinque o Carnaval apenas pelo prazer de sorrir, brincar, cantar e dançar sem fazer mal a quem quer que seja. E são muitos!

Que mal há nisso?

Também há muita gente que exagera e esquece que uma brincadeira só é boa, quando todos se divertem com ela.

No mais, maldade existe em qualquer época e até da parte de quem alega viver para fazer o bem! De quem diz que em tudo há pecado e degradação moral, mas coloca dinheiro e poder como suas reais divindades.

Quem não quiser brincar o Carnaval, não diga que não pode: diga que não quer!

Que faça algo que lhe dê prazer, ao menos, se esse tempo lhe for facultado!

Mas não desdenhe, critique ou julgue quem faz desses dias um momento de reflexão da alegria! De pródiga felicidade! De congraçamento!

De minha parte, preferirei descansar, por minha cinematografia em dia e - está no sangue! Fazer o quê? - trabalhar em alguns projetos; embora goste de ver o movimento, as fantasias... Isso me faz feliz, no Carnaval!

E ser feliz é o que vale, desde que não seja às custas da infelicidade de quem não merece.

Sofrer ou se mortificar pra quê?

Aliás, já diziam: uma antiga marchinha carnavalesca: "Hoje, eu não quero sofrer! Quem quiser que sofra em meu lugar!..."; e um frevo: "Todo mundo na praça! E manda a gente sem graça pro salão!".

Adilson Luiz Gonçalves

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