Eu e o Pedro
Eu tenho um filho, o Pedro, uma figura. Me lembrei de uma história dele hoje, depois que falei com um colega sobre escolhas que fazemos. Tem horas na vida que a gente tem que escolher algumas coisa em prol de outras. Que não adianta se matar trabalhando para um dia pagar a faculdade dos filhos se o ensino fundamental passa batido pois não temos tempo para estar com eles. Que quando conseguimos, enfim, ter tudo que queremos no âmbito material o tempo passou, os filhos estão longe, correndo atrás das próprias quimeras, aí choramos a solidão.
Então lembrei-me que certa feita estava saindo para fazer um plantão à noite e ele, o Pedro, pediu-me para ficar. Expliquei com toda a calma a mesma história. "Mamãe tem que sair para trabalhar para trazer dinheiro para casa, para poder comprar comidinha, brinquedos, roupinhas, etc..". O Pedro saiu mais que ligeiro da sala e disse: "Espela". Voltou ele com um cofrinho que havíamos comprado em Caruaru no melhor estilo do Mestre Vitalino onde guardava as moedinhas que só podiam ser tiradas se o quebrassem. Ele adorava o burrinho-cofre dele. Fazia planos sobre os brinquedos que ia comprar com o dinheiro, andava chacolejando-o pela casa. Para minha surpresa, ao chegar à sala, ele esticas os bracinhos e diz: "Mamãe, pode "quebar" que te dou tudo, aí tu não precisa sair". Tive uma brutal enxaqueca, não pude fazer o plantão...
Tem horas que a gente tem que entender o valor verdadeiro das coisas, que o tempo tem preço variável, que não podemos sacrificar uma etapa em prol de outra. Não sou a melhor mãe do mundo e não creio que ela exista, sou a mãe possível, a melhor mãe possível que meus filhos podem ter. Erro, perco a paciência, me esqueço de coisas que não deveria, mas uma coisa ao longo do tempo percebi: Não se vive amanhã o que se tem que viver hoje. Amanhã todos nós somos um dia diferentes, quantos mais dias, mais diferentes somos. O filho que tenho hoje, só terei ele hoje, daqui a um ano, é outro filho, outro tempo, outro mundo.
Ana Laura Kosby