DO PAPIRO AO HIPERTEXTO

             

           Não foi só a escrita que evoluiu com as novas tecnologias. O leitor também se transformou. Na época do papiro, para ler era preciso segurar pesados rolos presos à madeira com as duas mãos. Ler e escrever ao mesmo tempo era um ato impensável.

           A escrita evoluiu em diversos suportes. Foi esculpida em argila, desenhada no papiro e no pergaminho, inscrita no papel até ser digitalizada no mundo virtual. Em cada suporte foi objeto de tecnologias diferentes.

           O pergaminho, a partir do século II d.C., tornou possível organizar o texto em códices, antecessor do livro, com lâminas de peles sobrepostas, onde os monges escreviam com ossos molhados e penas de aves. Somente em 1884 foi inventada a caneta-tinteiro e, em 1937, a caneta esferográfica.

           A prática da leitura, durante a Idade Média, concentrou-se no interior dos templos, a partir das Sagradas Escrituras. Até o século X a leitura era uma experiência pública: uma pessoa lia e outros ouviam. A leitura silenciosa foi uma revolução no ato de ler. Para facilitá-la foi necessário desenvolver a pontuação.

           O desenvolvimento das cidades, entre os séculos XI e XIV e a existência das escolas propiciaram a alfabetização, ampliando o acesso à escrita. A imprensa, técnica baseada nos tipos móveis e na prensa, tornou possível a multiplicação da escrita com Gutemberg, em 1440. Foi uma invenção revolucionária, talvez a mais importante da era moderna. Depois dela, a nova revolução para a escrita e a informação é o computador. Novas tecnologias prometem revolucionar ainda mais a escrita.

           Temos hoje 60 milhões de alunos frequentando as escolas brasileiras, em todos os níveis. Cerca de 33% da população, o que representa um número bastante expressivo. O ensino cresceu muito, nos últimos anos, sobretudo no fundamental. Mas quais são as perspectivas para o futuro?

           Em nosso País, somente em meados da década de 90, com a reforma realizada através da implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei no 9.394/96), a educação à distância passou a ser reconhecida oficialmente. Em seu artigo 32, § 4º, está previsto: “O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino à distância utilizado como complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais”.

           A resistência a novas formas de comunicação surge diante de cada nova tecnologia, como se o novo viesse para substituir o velho. A reação é a mesma que vivemos diante da ameaça da televisão ao cinema e ao rádio e do computador ao livro impresso.

           Estamos definitivamente convencidos de que se perde muito tempo, em sala de aula, ditando para os alunos, fazendo chamadas ou cuidando da disciplina. Há um estudo que comprova o desperdício, com essas ações, de cerca de 31% do total de uma aula de 50 minutos. Se o período na escola é considerado insuficiente, para quem não tem o tempo integral, não se deve insistir nesse formato clássico e superado. O que o professor escreve na lousa pode perfeitamente estar à disposição dos alunos nos computadores, hoje comuns em algumas escolas, e isso evidentemente dá um grande ganho aos que agem assim.

 

NOVOS CAMINHOS DA LEITURA

           Os recursos tecnológicos hoje disponíveis facultam, com um mínimo de conhecimento técnico, a intervenção do leitor diretamente nos textos. Hipertextos transferem parte do poder do escritor para o leitor pela possibilidade e habilidade que este último passa a ter de escolher livremente seus trajetos de leitura. Assim, ele elabora o que poderíamos denominar "meta-texto", anotando seus escritos junto a escritos de outros autores e estabelecendo links (nexos ou interconexões) entre documentos de diferentes autores, de forma a relacioná-los e acessá-los rapidamente.

           A comunicação tornou-se rápida e concisa, transformando a escrita. A fragmentação, certamente, não iniciou com a internet, mas era muito mais controlada. O texto encolhe cada vez mais, perdendo o aprofundamento. Temos hoje os mini blogs e, através do twitter, instalou-se a twiteratura, onde as ideias têm que ser expressas com, no máximo, 140 caracteres.

           Para alguns autores, este novo mundo é “emburrecedor”. Quando não se estimula algumas habilidades cognitivas, elas se perdem. Se a distração é constante, o pensamento não é o mesmo de quem tem o hábito de prestar atenção. Há pesquisas que demonstram a adaptação dos circuitos cerebrais.

           Os usuários da internet costumam receber tudo pronto. O jornalista Gilberto Dimenstein, em sua coluna na Folha de São Paulo, citou uma pesquisa da Universidade de Stanford, sobre a realização de muitas tarefas ao mesmo tempo, o que tornaria o cérebro menos condicionado e menos funcional. Esse distúrbio é chamado de “cérebro-pipoca”, que dificulta o foco no que é realmente importante, trazendo dificuldades de diferenciar o valor das informações.

           Por outro lado, as experiências com hipertexto estreitam a distância que separa documentos individuais no mundo da impressão. Por reduzirem a autonomia do texto, reduzem também a autonomia do autor. O leitor torna-se um construtor de significados ativo, independente e autônomo.

           O leitor virtual tem diante de si o poder dos dígitos, que transformam qualquer informação numa linguagem universal. Multimídia é a nova linguagem, e o leitor navega na tela programando sua leitura, escolhendo textos, sons e imagens fixas ou em movimento. O acesso depende, apenas, dos interesses de quem navega.

           Tal como o cérebro humano, o hipertexto não possui uma estrutura hierárquica e linear. Sua característica é a capilaridade, ou melhor, uma forma de organização em rede. Ao acessarmos um ponto determinado de um hipertexto, consequentemente, outros que estão interligados também são acessados, no grau de interatividade que necessitamos.

Arnaldo Niskier