AMOR NÃO TEM IDADE

Há algum tempo assisti uma reportagem sobre um casal, ambos viúvos e que setenta anos antes tinham se amado muito, mas a mulher acabara o relacionamento.Ele sofreu demais e os dois se casaram com outras pessoas, construíram família, tiveram filhos e ficaram viúvos aos noventa e cinco anos.Lendo o jornal (vamos chamá-los de Carlos e Júlia) Carlos encontrou por acaso notícias sobre Júlia e começou a procurá-la. Encontraram-se, e estão apaixonados. Casaram-se enfim.

Ao vê-los me emocionei. Não só pelo fato em si, mas por esse sentimento misto de amor e paixão que revive inteiro depois de setenta anos de separação.

Olhando-os dá uma súbita e profunda vontade de lutar pela vida, seus anseios, esperanças, desejos, sensações e prazeres de uma forma ainda mais intensa. Intensa e duradoura. E lembrarmos que enquanto a chama da vida brilha há aquele incandescente calor que acompanha os sentimentos sejam eles quais forem na profundidade em que a própria vida se estende.

E isso não tem nem idade, nem tempo e nem mesmo critérios estabelecidos a partir de normas frias que não condizem com sensações legítimas e verdadeiras.

É a vida com tudo que oferece de mais harmonioso, belo e transbordante de riquezas indescritíveis.

Quem já perdeu alguma coisa nesse caminho sejam entes queridos que se foram ou seus próprios ideais que deixaram ser sobrepujados por regras e conceitos oriundos de uma tradição ultrapassada, permitindo que tradicionalismo se confunda com o “bom viver” e que discernimento não faça parte de seu mundo interior, nessas ocasiões hão de sentirem a comoção de momentos inexistentes.

Morte, infelizmente faz parte da vida e por mais que queiramos e que lutemos não poderíamos segurar nesse mundo alguém na hora da definitiva viagem.

Mas podemos eternizar a vontade de sonhar, amar sentir sensações que nos levem ao exercício da vida e à plena satisfação necessária ao ato de viver.

Esse casal nos deu uma lição do que é a vibração de nos sentirmos plenos em qualquer época, com esperança no coração e brilho luminoso no olhar.

Observando-os pude sentir que eles são mais jovens do que qualquer um de nós apesar dos quase 100 anos de sua trajetória. E tenho certeza absoluta que o vigor os acompanhará, caloroso e seus corações continuarão aquecidos e plenos. Sem desânimos, desesperanças, negativismo ou sofrimentos. Até o fim. Um fim que todos gostaríamos de ter e usufruir na mais plena capacidade de receber, doar e ser feliz.

A Velhice, idade do conhecimento

Nos países de sabedoria oriental, quanto mais velho se torna alguém mais respeitado é pela sabedoria que carrega. E é lamentável que no Brasil essas pessoas sejam tão pouco reconhecidos.

O exemplo de carisma na velhice eu encontrei em meu avô. Olhando-o absorvendo tudo que ele dizia com uma concentração rara não só eu como todas as pessoas jamais poderiam julgá-lo um “velho”. Lá se reuniam nas noites quentes do nosso Rio de Janeiro estudantes que ficavam seduzidos pelo seu conhecimento.

Nunca, em oportunidade alguma encontrei alguém, tão fascinante como meu avô.Aprendi com ele quase tudo que sei, não só em vivência como também em conhecimento.Havia uma pequena cadeirinha, em que me sentava ao lado dele absorvendo que ele ia dizendo e que eu guardava em minha memória e também em meu coração.

Era escritor, advogado, político, jornalista e exercia vários cargos, mas isso não impedia que ele reservasse um tempo, em que me falava das coisas mais triviais até os mais sérios e filosóficos assuntos. Muitas vezes compreendi um modo de entender a vida mais amena com seus ensinamentos e sua cultura vastíssima fazia com que eu me perdesse em suas palavras querendo saber cada vez mais.

A velhice apenas confirmou e transpôs os limites naturais de seus conhecimentos e de sua sapiência. Aprendi muito de solidariedade, amor, compreensão, doçura, energia apreciando seu modo de se conduzir na vida.

Como para ele o estudo era primordial, acudia com naturalidade pessoas que não tinham condições para fazê-lo e vi muitas vezes estudantes hóspedes em sua casa grande e fascinante.

Ficava tão deslumbrada com isso, que depois fazendo meu curso de pós graduação, em educação fiz uma pesquisa de campo sobre a velhice e para isso freqüentei muitos asilos onde vi e convivi com velhos de ambos os sexos e pude desfrutar da experiência de muitos contadores de história, realmente impressionantes.

Mesmo nas classes mais pobres ou com menos cultura usufrui com encanto a convivência com essas pessoas mais velhas e aprendi muito com eles. Isso me faz lembrar uma amiga de minha avó, uma das mulheres mais bonitas que conheci. Era já idosa, mas seus traços se conservaram extraordinariamente belos e gostava de olhá-la profundamente enquanto ela contava casos ou tocava seu velho piano.

Impressionante como essa senhora reunia gente jovem, muito jovem ao seu redor seduzidos pelo seu espírito, inteligência, arte, exuberância que encantava a quantos a conheciam. Histórias, ela tinha inúmeras, sempre diversas e palpitantes que vibravam devida e calor.

E é por isso que faço uma homenagem à terceira idade maravilhosa, quando sabe vivê-la com arte e apreciá-la curtindo a vida que os tornou seres experientes e sábios. Todos caminhamos mais hoje mais amanhã para essa fase contraditória e bela e quando chegar lá, quero estar plena e conscientemente laboriosa, feliz e encantada com o viver de cada dia.

Por agora procuro na fonte dos mais velhos a certeza que eles saberão sempre passar um pouco de sua enorme sabedoria. Estou querendo enaltecer as pessoas mais velhas que souberam tirar de sua existência uma fonte de aprendizado, felicidade e aceitação dos anos que se foram, mas continuam presentes em suas lembranças e ensinamentos.

Vânia Moreira Diniz

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