De repente, não mais que de repente, cheguei aos 65. Para efeitos legais, sou um idoso. Com o privilégio de não mais pagar passagem de transportes coletivos, de passar à frente na entrada dos elevadores, nas compras dos supermercados e no acesso ao crematório. A cabeça grisalha, povoada de dúvidas. Sobre que baixa apenas a dura certeza de que nunca, nunca mais peito jovem de mulher se abraçará, arfante e cheia de desejos, ao seu. De manhã, como dizia Milton Dias, você não há-de querer saber onde dói, e, sim, onde não dói. Não foi processo instantâneo, fulminante e sim gradual, passo a passo, segundo a segundo. A gente se surpreende, é certo, com a idade. Até um dia desses era eu um adolescente encabulado, desviando-me das rodas de conversas nas calçadas de Sobral. Era um “foca” prolixo escrevendo furiosamente para a Gazeta de Noticias. Era estreante nas noitadas do restaurante do Ideal. De repente, sou iminente setuagenário. Como isto pode acontecer e eu nem notei? A gente se vê, todos os dias, no espelho. Não tem assim como perceber as diferenças do rosto, o estrago do tempo, com suas insidias, do calendário, com suas perfídias.
Já sou idoso
Daí a surpresa. Não é bom, mas a alternativa é letal.
Lustosa da Costa