TERCEIRA IDADE

Zilda olhava-se no espelho com ar pensativo. Dali a alguns dias, iria completar 60 anos. Sentimentos conflituosos a dominavam. Não sabia se devia ficar feliz ou triste.

Sabia-se ainda atraente e tivera a sorte de ter uma compleição física magra, que ela estava conseguindo manter sem grandes sacrifícios, o que a rejuvenecia bastante.

No entanto, não se podia negar que, apesar dos cremes miraculosos e caríssimos que podiam ser adquiridos no mercado, a pele já não tinha o mesmo viço. Aos olhos, faltava bastante da vivacidade que um dia tiveram. Os cabelos, que Zilda tratava a cada quinze dias com profissionais especializados, mantinham-se bonitos, mas ela, que os conhecia bem, não lhes enxergava o mesmo brilho de antes.

Apesar de tudo, ela sabia que ainda estava sedutora "para a sua idade". Essa  expressão a incomodava. Por que "para a sua idade?" Sim, porque era dessa forma que a elogiavam quando sabiam quantos anos tinha. "Por acaso teria que estar como"? pensava, irritada. "De cabelos presos em um birote, sentada na cadeira de balanço, fazendo crochê?"

Zilda tinha uma saúde perfeita, uma atividade profissional que lhe dava prazer, um casamento de longos anos, uma família unida e amigos que fizera e preservara ao longo da vida. Sua mais recente alegria fora a chegada da linda netinha. Era um sentimento único, despojado, livre, diferente do que sentira quando do nascimento dos filhos. "Ser avó é mesmo uma dádiva", pensava Zilda, depois que se acostumara com a nova palavra agregada ao seu nome...

Foi perdida nesses pensamentos que Zilda chegou à conclusão de que, a essa altura da vida, recebera muito mais bênçãos do que dissabores e que devia agradecer a Deus por completar 60 anos tendo recebido tanto e tendo ainda muitas coisas boas para viver, para sonhar e realizar.

Largando o espelho sobre a cama, saiu cantarolando, dirigiu-se ao banheiro e entrou debaixo de uma ducha forte e restauradora. Enquanto se deliciava com a água lhe acariciando o corpo e a alma, Zilda já imaginava os detalhes para a festa que iria fazer para comemorar os seus sessenta anos. Iria proclamar ao mundo essa idade maravilhosa, que a deixava liberta de tantas amarras pelas quais tivera que passar em idades mais tenras. "Afinal", pensava Zilda, "se você não pode combater o inimigo, alie-se a ele..."

Dorcila Garcia

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