Dona Antônia

Dona Antônia tinha setenta e três anos, morava numa casinha bem confortável no Pau da Fome, em Jacarepaguá. Professora aposentada vivia regando as plantas de seu jardim e lia, sempre quando acabava de arrumar a casa, seus romances prediletos.

A filha da professora aposentada tinha muito receio de deixar a mãe sozinha: - Mamãe, vende essa casa, mora comigo. A cobertura onde moro é grande.-. A senhora dizia: - A filha, não quero incomodar ninguém. Adoro essa casa, me faz lembrar de tanta coisa. Do seu pai ajeitando o jardim nos seus dias de folga, as reuniões que você fazia com as amigas da escola e do curso que você fazia na Taquara. Enfim, são muitas são recordações.

Tempos depois, a senhora Antônia teve que vender a casa. Teve um infarto e sua filha a convenceu que seria melhor morar com ela: - Mãe, você não é mais uma garotinha. Precisa de cuidados, vende a casa. Vem morar comigo. -. Foi morar com a filha, o genro e o neto em Ipanema. Pensou que sua vida iria se resumir a ir à igreja, ao médico e passear com o neto.

Pierre era um famoso fotógrafo. Vivia numa cobertura luxuosa da zona sul. Tinha setenta e cinco anos. Às vezes recebia visitas de mulheres bem mais jovens. Quando o viu pela primeira vez, a senhora que foi morar na cobertura ao lado pensou: - quando jovem, com certeza, era muito bonita -. A senhora também o reparava, ficava observando aquelas jovens entrarem: - Meu Deus, o quê elas fazem com ele lá dentro? O velho descarado!!

Um dia, Dona Antônia foi passear um pouco. Quando caminhava pelo calçadão da praia do Arpoador, sentiu que alguém a estava seguindo. O medo começou a brotar e o suor frio a percorrer seu rosto. Começou a andar de pressa.
Quando parou para atravessar à rua, escutou um clic de foto. Era o vizinho fotógrafo: - Oi, tirei uma foto sua, você não se importa?-. - Mas por quê? Nem te conheço. Você está me seguindo?- respondeu indignada ao fotógrafo, que retrucou: - Tirei sua foto porque te acho bonita. Quer tomar café na minha casa.
A senhora inventou uma desculpa: - Não posso, tenho tomar conta do meu netinho.-. Pierre riu, dizendo: - Está mentindo. Conversei com seu genro. Foram passear no zoológico e você não quis. Vamos para minha casa, juro que não vou fazer nada de errado.

Dona Antônia foi e se divertiu bastante. O fotógrafo tirava fotos dela. Sentia-se muitos anos mais jovem.

A cada dia, dona Antônia entrava no mundo exótico de Pierre. Ela esperava todo mundo sair de casa, para ir ao apartamento dele. Transavam todas às tardes. Ficava com vergonha e feliz ao mesmo tempo. Em seguida, a senhora tomava um longo banho. Depois, preparava bolo de chocolate bem gostoso ao neto.

Afinal de contas, sempre foi uma avó carinhosa.

Eduardo de Oliveira Freire

« Voltar