MINHA AVÓ
Minha avó suspirava e chorava fazendo seus trabalhos manuais, relembrando seu passado, contando seus compridos sonhos... Ela trazia ovos para mim e chamava-me de lagartinho por eu gostar de ovos. Ela comprava biscoitos com desenhos de bichinhos para eu lanchar na escola. Minha avó bordava coisas lindas para mim. Mas não conversava comigo. O que é que se pode conversar com uma criança? O mundo, para minha avó, acabava na porta da rua. Não queria saber de estranhos. Não queria saber de notícias. TV — só Sílvio Santos aos domingos. Não cantava uma música. Não contava uma história. A vida para ela acabou aos cinquenta. Só lhe restava — dizia — morrer. Mas como Deus não concordava, ela foi-se arrastando dez, vinte, trinta anos a fio. Cada vez mais calada. Minha avó rega as plantas. Minha avó cuida do jardim. Minha avó vegeta. Tem lá suas razões. As plantas são melhores que muita gente. Minha avó é simples como as plantas.
Sonia Regina Rocha Rodrigues