Velhinho é a vovozinha!
O ministro Berzoini, da Previdência, não deve ter avó ou avô vivos. Se os tem, eles não dependem de aposentaria. E se dependem, devem estar xingando até agora o netinho desgarrado. Submeter os maiores de 90 anos ao recadastramento pode ser uma necessidade. Congelar as aposentadorias e pensões é uma barbaridade.
Bom, mas muita gente já escreveu a respeito. O próprio ministro teve que ceder e pedir desculpas em público. Por isso, vamos ao que interessa. Porque a gafe do ministro reflete a incapacidade brasileira de lidar com a melhoria da qualidade de vida no País. A burocracia foi desenhada para uma Nação com outra taxa de longevidade. Não foi traduzida para a prática da realidade de um país cuja população dura mais.
As cidades ainda não sabem o que fazer com seus velhinhos. Aliás, velhinhos uma ova. Tem muita gente com mais de 70 anos que tem energia de sobra. Nada daquela surrada imagem de senhores e senhoras fraquinhos, debilitados, doentes. É gente que pratica corridas ou caminhadas, que busca alimentação balanceada e freqüenta os consultórios médicos não para se curar de doenças, mas para evitá-las e alcançar melhores condições físicas.
Em alguns grandes centros urbanos como São Paulo, Rio e Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Curitiba os movimentos de valorização da Terceira Idade, ou da "Boa Idade", estão conquistando espaços. São cursos, shows, bailes, ocupação profissional e um sem número de novas possibilidades para a Velha Guarda.
Há um trabalho interessante realizado por algumas escolas. Implica em levar pessoas vividas a narrarem suas experiências às crianças. Em muitos casos, são verdadeiras aulas de história a partir das biografias dos palestrantes. O glorioso "Meninos, eu vi!" do I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias.
Essa iniciativa lembra um refrão da Velha Guarda da Portela: "Estamos velhos, mas ainda não morremos". Um grupo de cantores e compositores que dá aula de samba e mostra que a Boa Idade tem muito a oferecer. Demanda não falta. O conhecimento adquirido com a experiência é fundamental neste mundo cheio de informação e teorias.
Só é preciso aprender a aproveitar esse tesouro. A começar pela valorização das pessoas da Boa Idade. Não basta garantir boas condições de vida para que o brasileiro médio consiga viver mais. É preciso assegurar produtos, serviços e, principalmente, respeito, muito respeito. Atitude diferente daquela adotada pelas burocracias. Elas só refletem o desprezo da sociedade por quem é mais velho.
Assim, o erro do ministro foi só a cara oficial do preconceito que está mais do que vivo entre nós. Brasileiros que ainda não se acostumaram à idéia de que pessoas idosas não são descartáveis. São apenas brasileiros que viveram muito e querem viver muito mais, com todo o direito. É só ninguém atrapalhar.
Maurício Cintrão