Minha avó preta tinha uma vida tão simples. Uma casa sem nenhuma sofisticação, com o cheiro dela, uns santos no cantinho da sala, umas plantas que reaproveitavam latas. Sincrética como ela só.
Tudo funcionava assim, num mundo pequeno. Tinha pensamento formulado, do seu jeito, para qualquer necessidade; e, vinda tão próxima da escravidão, nenhuma letra. Saía pouco, visitava a filha e os netos; no máximo, uma ida às missas de domingo.
Fazia bolinhos de chuva.
Dentro dela, certa mente não era simples, como não é pra nenhum de nós.
Mas não complicar, pelo menos do lado de fora, já deve ser alguma coisa.
Adriane Garcia