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Curitibanos perdem a senhora dos haicais

Nádia Schiavinatto - TudoParaná

Os curitibanos e os amantes da poesia perderam na noite deste sábado a poetisa Helena Kolody. Internada no Hospital de Caridade de Curitiba, ela não resistiu a uma arritmia cardíaca.

Filha dos imigrantes ucranianos Miguel Kolody e Victória Chandrowska, Helena Kolody nasceu em 12 de outubro de 1912, em Cruz Machado, na região Sul do Paraná. Alfabetizada pela tia que era professora, a menina canhota, de letra feia, aprendeu cedo o gosto pela leitura. A poetisa contou certa vez que nunca esqueceu a sua primeira cartilha. "Amei tanto aquele livro que nunca mais parei de ler", disse.

Amante dos livros, Helena optou pelo Magistério. Foi professora do Instituto de Educação, em Curitiba, por 23 anos. Para as normalistas, dona Helena era como uma segunda mãe. Para manter a atenção das alunas, o bom comportamento era recompensado por uma poesia declamada no fim das aulas.

Apesar do amor estar sempre presente em suas obras, desde primeiro livro, "Paisagem Interior", editado em 1941, a mulher de pele clara e olhos azuis nunca se casou. Morava em um apartamento com a irmã Olga, no centro de Curitiba. Foi noiva por apenas dois meses. O casal, apesar da paixão, se separou.

O diretor da Criar Edições, Roberto Gomes, foi quem lançou, na década de 80, os trabalhos de Helena no mercado literário. A partir daí, a poetisa passou a ser mais conhecida, mas não fora de Curitiba, apesar da qualidade de seus trabalhos.

A poetisa paranaense ao longo de seus 91 anos conquistou uma legião de admiradores de todas as idades. Elogiada pelos poemas curtos, começou a fazer minipoemas. Segundo o escritor Paulo Venturelli, professor do curso de Letras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e autor de um estudo sobre a escritora, Helena Kolody começou escrevendo poesias sentimentais, mas com o passar dos anos foi depurando a forma de escrever e tornou-se uma das primeiras a trabalhar com haicais, na década de 60. "Os versos simples da poetisa dão a idéia ilusória de que não foram trabalhados, pois parecem espontâneos. Na verdade, foram decantados e conseguem se inserir na melhor tradição lírica da língua portuguesa", disse ele.

Em 1.991 passou a ocupar cadeira de nº 28 da Academia Paranaense de Letras. No ano seguinte, quando completou 80 anos, recebeu uma homenagem de Sílvio Back com o filme "A Babel de Luz".

Ao completar 90 anos, em 2.002, a poetisa recebeu várias homenagens, mas recatada, Helena sempre preferiu ficar longe dos holofotes da mídia.

A saúde da escritora foi abalada por uma doença ciática que a impedia de sair de seu apartamento. Com o tempo, foi ficando cada vez mais reclusa. Por diversas vezes ficou internada, mas a pedido da própria escritora, o hospital não nunca revelou o quadro clínico da paciente. Neste sábado, os olhos azuis se fecharam.

Em suas obras, a morte surgiu apenas como o começo da vida eterna. Católica convicta, Helena acreditava que "a outra vida deveria ser formidável".

Fonte: http://tudoparana.globo.com/site.phtml?url=http://tudoparana.globo.com/cultura/noticia.phtml?id=62217


Sylvio Back recebe notícia da morte com tristeza

O roteirista e diretor de cinema Sylvio Bach recebeu, na manhã deste domingo, no Rio de Janeiro, com tristeza a morte da poetisa Helena Kolody. "Sempre considerei Helena a maior poeta brasileira do século XX. Ela deixou uma obra completa, que nunca foi publicada em vida, e que está aí para ser lida e avaliada", disse ele. "Fico muito triste com a morte dela", lamenta.

Back produziu em 1992, quando Helena completou 80 anos, o curta-metragem "A Babel de Luz", em homenagem à poetisa.

O cineasta fez ainda um texto-poema para homenageá-la:

O POEMA, AFINAL, CONTINUA A VIDA

Cinema é mera ilusão. O que o olho visualiza, a câmara nem sempre mediatiza. Fotografia e fotogenia - duendes rebeldes da cartola imagética.

Há algo de erótico nisso tudo. Nesse intercurso assimétrico com o desconhecido. Virar as costas para as certezas do quadro entrevisto - puro risco.

Desbanalizar a imagem. Como hoje ultrapassá-la a não ser remontando regra e subversão, intuição e acaso, citação e novidade? Só o anverso é certo.

Volta às origens, de quando o cinema precisava que se acreditasse nele. Na revolução do ato de ver que se anunciava. Que não era teatro filmado ou balé filmado, sucedâneo de circo ou de ópera, simulacro das artes plásticas. Era tudo isso, com o plus da multiplicação industrial do sonho.

Lumière e Meliès - nossos maiores, assestaram um neo-olhar e um neo-imaginário sobre o homem e sua coreografia - a pintura tornada movie para renascer numa superfície de incontrolável leitura anímica e telúrica.

O que tem sido o cinema, que carrega a pecha de não pensar, senão dar visibilidade às aparências, do invisível - a sugestão?

É nelas que o curta-metragem, "A Babel da Luz", repousa a sua arqueologia, sua história e transcendência. No rito facial da poeta Helena Kolody, na suave retória de Helena Kolody, no intenso silêncio de Helena Kolody - o alto relevo do magma espiritual de uma ilusão biográfica.

Com o "dizer" de poemas protagonizado pela própria autora, o filme vai em busca de um estilo que consagre a ambos, criador e criatura.

Helena Kolody falando em versos, pelos seus versos - como se falasse de (a)cada um de nós, e à posteridade.

Por isso a imagem excludente do cotidiano em "A Babel da Luz". Por isso a imagem eleita da poeta como o receptáculo e o espetáculo do todo - sem rebuços ou artifícios que não o eco e a cor da palavra.

"A Babel da Luz" é o tráfico metafórico entre o falado e o calado, entre o escrito e o traduzido, entre o filmado e o gravado. A revelação do ser humano e de suas circunstâncias lastreada no fabro lírico, gráfico e semântico do poema. Que o poema, afinal, continua a vida.

Eis, portanto, o filme da poesia sobre o poeta: Helena Kolody incorpora e verbaliza aqui a vocação inata do cinema, o poema deslocado do real para renascer sob o signo da aura tecnológica.

É a prestidigitação inexcedível do cinema que sempre flagra-se rupestre - o reencontro com o fotograma inaugura".

Sylvio Back

Fonte: http://tudoparana.globo.com/site.phtml?url=http://tudoparana.globo.com/cultura/noticia.phtml?id=62229

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