A ÁGUIA

Um jardim de luto
roídos todos os frutos da alegria.
A erva rasa boceja
parou a corda dos pássaros. Partida.
A ventania passa em farrapos ao meio-dia
meninos a perseguem a pedradas.
Um sábio indaga a loucra em prudente
vigília e o matam.
Já é outro dia; ningém se lembra —
nas folhas brilha um novo rocio:
futuro e formigas invadem o canteiro.
Flechas imóveis
pássaros sem canto sem dia.

Além do futuro a águia espreita
e cala a profecia.

                                                    Dora Ferreira da Silva