BALEIA ALBINAPelo úmido azul
a baleia albina baila
e assombra
a sala em penumbra
barbatanas rêmiges
a massagear
volumosa massa d'água
o trêmulo transparente
corpo marinho...
Marítima mamífera
a espraiar
a cútis de elanca
Enquanto as gordas vastas ancas
nadam dançam
se lançam
pelos pastos salgados
de algas e sargaços...
Será menina
a baleia albina?
Será adulta
a náufraga lua animal?
Ou centenária
a submarina cetácea nau?
Senhora dona do aquático sítio
supondo-se
solitária soberana
desfila tranqüila na líquida passarela
e revela
coreografia de estrela
e solfeja
cantiga de amor arquiantiga
e corteja
sem saber-se a prima-dona
de um mega espetáculo
sem pressentir
a intimidade exposta
à ribalta de mil olhos
pelo globo em volta...
Como o mar tão vasto
cabe entre sofás?
como nos toca o mar
se a pele não nos molha?
À noite os gatos são pardos
À noite somos jonas e pinóquios
acomodados na barriga da sala
essa estranha baleia
cujas paredes entranhas
o oceano invade
e lambe até tarde...
Somos então outra casta de peixes
pescados nas malhas
de eletrônica rede.Astrid Cabral