A GARÇA

Irritante, egoísta, superior,
estafeta macérrima do sutil
exclamação arrogante e desafeta,
a garça indiferença é solidão.

O silêncio elegante e implacável
como o passo cauteloso da tísica,
vaidosa, assexuada e impermeável
a garça geômetra é intolerante.

Curiosa, pragmática, pontual,
autista, longilínea, vertical
em seu hierático olhar de rapina,
a garça não cogita, bica.

Estável, fléxil e sobeja,
álgido filete de brio,
virgíneo clarão de um venábulo,
a garça é sina, seca e supina.

Artur da Távola