O HOMEM, O SAPO E A FLOR

À beira do lago um sapo,
Ao seu lado está a flor,
Do sapo escuto o coaxar,
Da flor, eu, sinto o odor.

Do sapo só vejo os olhos,
Da flor a cor nem percebo,
O sol se foi, era tarde,
A noite chegou bem cedo.

Falsa marolas no lago,
É o sapo que movimenta,
A noite já nos domina,
A lua é que sobe lenta.

O anil do céu enegrece,
Tal qual a luz que apago,
Muita estrela que aparece,
Bordando a água do lago.

Forma-se um clima lindo,
A natureza é alegria,
O sapo, o lago e a flor,
Meu coração inebria.

Sinto, fundo, dentro d'alma,
Tal qual o sapo a coaxar,
Um desejo muito forte,
Da companheira, encontrar.

Então, canto à natureza,
Canções, no aroma da flor,
Tão doces, que a melodia,
Enche o peito de amor.

O sapo já satisfeito,
E eu bem encorajado,
Nas pedras tem o abrigo,
E eu estou animado.

As estrelas cintilando,
Na superfície do lago,
Imitam ao véu e grinalda,
Da noiva que tenho ao lado.

Obedecendo aos preceitos,
Sociais e naturais,
Eu e, também, o sapo,
Queremos um algo a mais.

Algo mais, bem corriqueiro,
Que preenche o sentimento,
Pois, das duas, ela é uma,
Razão para o casamento.

Ninguém é dono de nada,
Do mundo e tudo que tem,
Pois, quem tem dois, dando um,
Não faltará pra ninguém.

Se, apenas olhei o sapo,
O lago, a flor e cantei,
Qual o sapo, a companheira,
Por sorte, também achei.

Se sempre nos respeitarmos,
Cada um viver seu canto,
A vida será feliz,
Ninguém verterá o pranto.

O homem, o sapo e a flor,
O aroma, estrelas, à noite,
Aos incrédulos da vida,
É sempre terrível açoite.

Paz, carinho, muito amor,
Só cabem no coração,
Dos homens que têm n'alma,
Um feitio de oração. Palavras amenas, doces,
Bem, claras, nada de “papo”,
Serão, assim, as verdades,
Como o coaxar do sapo.

Agora eu estou seguro,
Vou pelo caminho certo,
Pois, vejo a tristeza, longe,
E sinto a alegria perto.

Depois dos, muito, amanhãs,
Sapo velho e eu também,
Partiremos desse mundo,
Onde não fica ninguém.


Será duro separar-se
Da companheira fiel,
Tal como escrever bilhete,
Quando não tem papel.

Então, só quem for depois,
Curtirá toda amargura,
Após a vida feliz,
Perderá sua ternura.

Aí, nos olhos do sapo,
Que, ao cair da tarde, eu vi,
Brotará mais uma lágrima,
Por ela e não que morri.

                               Condorcet Aranha