MISERICORDIOSISSIMAMENTE

Conta Buffon que o sapo é jardineiro:
Igual aos pajens, nas antigas salas,
Serve às rosas galantes de um canteiro,
Em contínuo cuidado a cortejá-las.

Dos rouxinóis, artista verdadeiro,
Estuda o virtuosismo das escalas,
E se esfalfa, e se esforça, prazenteiro,
Em senti-las, compô-las, imitá-las.

Possui o sapo a adoração da estrela:
Vendo-a na água brilhar, tenta colhê-la,
Nas profundezas turvas e enganosas.

Hugo nos diz que bem merece um culto
Quem vive a idolatrar, no mundo estulto,
As estrelas, os pássaros e as rosas.

                                               Martins Fontes