ANDORINHA, A MENSAGEIRA DA PRIMAVERA

...."os pássaros são a miúda biblioteca de Deus" Humberto de Campos

Eu amo as andorinhas! Mas também, quem não as ama?

As Andorinhas sempre mereceram, a simpatia universal pela sua alegria, seu pipilar amável e segredar aprazível, pelas curvas caprichosas que desenham no ar, com seus vôos elegantes e baixos...e sobretudo, porque são os arautos alegres da primavera.

Quando elas chegam, há sorrisos tépidos pelo bom tempo que vem aí na cauda destas amantes do sol.

Por mais que Aristóteles tenha afirmado que "uma andorinha não faz primavera", ainda assim, este pássaro está associado à renovação primaveril. Com efeito, por toda parte a andorinha é ligada a fertilidade, a alternância e renovação.

Em todos os tempos os homens louvam o préstimo e o encanto da andorinha. Isaías, o profeta, já a elas se referia nas suas predições. Homero cita-as na Odisséia.

Os gregos tinham-nas como elemento prestante no equilíbrio biológico, porque eram sabidamente úteis no combate aos insetos nocivos.

Elas eram também benquistas pelos deuses Penates e maltratálas constituía, entre os romanos, ação reprovável e punível.

Na China antiga, o casal de andorinha era símbolo de fidelidade e a chegada e partida destes encantadores pássaros correspondia à data dos equinócios. O dia de retorno das andorinhas, no equinócio da primavera, era ocasião de ritos de fecundidade. Esse costume deve ser aproximado de algumas lendas que narram a fecundação maravilhosa de moças pela ingestão de ovos de andorinha.

Estes ritmos sazonais da andorinha, também são associados à alternância dos ciclos "yin-yang" e é acompanhado de uma metamorfose: ela se refugia na água (yin,inverno), onde, segundo Lie-iseu, se muda em molusco e, depois, volta a ser andorinha, acompanhando o movimento ascendente do Sol (yang, verão).

Encontramos um simbolismo semelhante no Egito, onde a deusa Ísis à noite se transforma em andorinha, para voltear em torno do esquife de seu esposo, Osíris, e se lamentava com gritos queixosos até o retorno do Sol: símbolo do eterno retorno e anúncio da ressurreição (o Osíris "vegetante" é também associado à mesma idéia e à primavera). No Egito antigo, pensava-se que o adepto, por ocasião de sua iniciação, se transformasse em andorinha.

Na mitologia celta, a andorinha é representada pelo nome de Fand, esposa de Manannan, o deus do Mar. Enamorando-se do herói Cuchulainn, ela o convida para o outro mundo, onde passa um mês junto dela. Depois a deixa e volta para sua esposa, Emer. Triste e melancólica, Fand parte com seu marido, que voltara para buscá-la. A andorinha então simbolizaria uma felicidade ilusória, intemporal e efêmera..

Para os bambaras do Mali, a andorinha é uma auxiliar ou manifestação do derniurgo Faro, que é o senhor das águas e do verbo e expressão suprema da pureza, em oposição à Terra, originalmente suja. Como nunca pousa na Terra, a andorinha não tem  sujeira, o que lhe confere um papel importante na mitologia. É ela que recolhe o sangue das vítimas dos sacrifícios oferecidos a Faro r leva-o aos espaços superiores, de onde cai na forma de chuvas fecundadoras. Ela tem, portanto, no fenômeno da fecundação da terra, o papel de mensageira.

No islã, a andorinha é chamada de "pássaro do paraíso" e significa a renúncia e a boa companhia.

Para os persas, era símbolo de solidão, da separação dolorosa e da emigração, talvez por causa de sua natureza migratória.

Para os antigos, a andorinha simbolizava a amizade, para outros, a fidelidade, porque volta regularmente cada ano para ocupar o mesmo ninho.

Na Valônia, segundo uma lenda popular, a andorinha retirou com o bico, um a um, os espinhos que feriam a fronte de Jesus Cristo. Por este motivo, quem derrubasse seu ninho passaria por sacrílego e atrairia a punição do Céu.

Segundo outra lenda da Idade Média, quando os homens começaram a semear grãos de linho, a andorinha teve a intuição do perigo que isso representava para os pássaros e os avisou que a partir desse grão os homens fabricariam redes para apanhá-los. Como os pássaros não lhe deram ouvidos, ela foi encontrar-se com os humanos e firmou um pacto com eles, a fim de que ninguém praticasse nada de nocivo à outrem. Em virtude desse pacto, as andorinhas puderam construir seus ninhos perto dos homens, e eles se habituavam tão bem com elas que diziam que a casa na qual as andorinhas construíam ninho era abençoada por Deus.

Quando chegou o tempo da messe, os homens colheram o linho e com suas fibras teceram redes e a predição da andorinha se realizou...

Outra lenda...

Anda em diversas partes do Brasil uma lenda introduzida da Costa do Ouro que confirma a relação amigável da andorinha com o homem:

Imediatamente antes dos animais deixarem a Arca de Noé, a serpente mandou um mosquito, para verificar qual seria o sangue melhor. De volta de sua expedição, ia comunicar que superior a todos era o sangue humano, mas estava ali uma protetora nossa, a andorinha que rápida, cortou a língua do mensageiro. A serpente, em jejum, ficou furiosa e quis vingar-se da ave amiga dos homens, devorando-a. Felizmente, apanhando-a pela extremidade posterior, só atingiu algumas penas. Desde então têm-se notado uma falha no meio da cauda da andorinha.

Na América do Norte e Central, a andorinha goza da proteção do homem. Como costuma fazer ninho em árvores ocas, penduram muitas vezes para elas nas árvores cabaças, nas quais abrem um buraco onde pode entrar. Realmente, merecem proteção e carinho essas criaturinhas que o destino ou uma fada benfazeja cumulou de virtudes. Quem as observa, jamais deixará de amá-las.

As andorinhas são exemplos vivos de mansidão, fidelidade e benemerência. Vivem em grupos de famílias numerosas, fazem seus passeios pelos ares sempre juntas e juntas caçam em boa paz.

O casamento delas é indissolúvel e somente a morte pode desfazê-lo. São dotadas da mais alta aptidão para o vôo e passam grande parte de sua vida pelo ar. Comem, bebem e banham-se voando e, ainda no próprio vôo, alimentam os filhos que se iniciam na arte de voar, mas que ainda não lograram a prática indispensável de caçar.

Rui Barbosa escreveu uma página inesquecível sobre estas sensacionais criaturinhas, Axel Munthe admitiu que não há poesia mais emocionante que o rítmico bater de asas de uma ave no alto dos céus, Humberto de Campos diz que os pássaros são a miúda biblioteca de Deus.

Queria eu também ser poeta para render-lhe glórias!

Rosane Volpatto