Coluna 55
"Quando se é capaz
de lutar por animais, também se é capaz de se lutar
por crianças ou idosos.
Não há bons
ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais
fracos, que não podem se defender".
Brigitte Bardot
Olá queridos leitores,
Hoje trago mais uma matéria sobre vegetarianismo. Pode parecer que estou obcecada pelo tema, mas a verdade é que estou me sentindo muito bem e gostaria de passar essa minha tranqüilidade pra vocês que me acompanham aqui. São textos tão interessantes, informativos, que não posso deixar passar em branco. Dividi a coluna em seções – um pedido de ajuda para uma instituição séria como a ABEAC, eventos em prol dos animais e uma notícia nada agradável. Aliás vamos refletir, como um padre pode ser capaz de matar um cão, ninguém pode, claro, mas um padre é ainda pior... um ser humano que deveria zelar pela vida, ter compaixão, matar um outro ser vivo? Fiquei indignada, aliás, como sempre. Mas realmente o mundo está de ponta cabeça, não sei onde vamos parar.
Espero que gostem da coluna,
Abraços
Ajuda
Para ajudar na alimentação e tratamento de nossos animais, seguem os dados para depósito.
Abeac Associação Bem Estar Animal Amigos da Célia
CNPJ: 06.164.870/0001-82
Banco Itaú
ag 0772 c/c 52385-8
Notícia
Um padre da Costa Rica foi condenado a um mês de prisão e uma multa de dois dólares por ter mandado matar um popular cachorro de rua da região. O reverendo Carlos Artavia argumentou que o animal atrapalhava seus serviços religiosos.
Testemunhas disseram que o cachorro havia desaparecido em 24 de janeiro e algumas pessoas o viram dentro do carro do padre.
Em uma entrevista para a televisão local, o padre confirmou que pediu a um veterinário que pusesse o cão "para dormir" e se desculpou com a população. O cãozinho morto teve um funeral concorrido.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/popular/interna/0,,OI547831-EI1141,00.html
Eventos
1. 11/06/05 – 11hs - Manifestação contra rodeios – Americana - SP
Recebemos este e-mail no site www.animaisemrodeio.com.br sobre uma manifestação contra rodeio na cidade de Americana.
Nome: Daniela Menegaldo E-mail: dani_mene@ig.com.br
Manifestação contra rodeios em frente ao recinto da Festa do Peão de Americana (Interior de SP), estamos precisando de pessoal, quem for de SP e quiser ir, aqui vão as informações de como chegar... (se quiser + infos, ligue pra mim no 19 - 96124900 ou <myzz@uol.com.br>, qualquer coisa a gente marca na rodoviária de Americana e vamos juntos).
É importante que, em primeiro lugar, verifiquem se na cidade onde moram há ônibus para Americana. Se houver ônibus direto, ótimo, aíé só descer na rodoviária de Americana, tomar o ônibus para o centro da cidade e pedir para descer na "Praça do Bombeiro"(não tem erro, se você pegar o ônibus para o centro de Americana, não tem como errar de ponto ). Estaremos reunidos na praça a partir das 11:00 para nos organizarmos e explicarmos o nosso objetivo e para fazermos muito barulho.
Agora, se na cidade onde morar não houver ônibus direto para Americana, será necessário tomar um ônibus até a Rodoviária de Campinas e de lá até Americana. Uma vantagem é que todos que forem junto com o Jeff vão se encontrar na Rodoviária de Campinas. Quem desejar pode entrar em contato com o Jeff pelo Celular:19 91982542, para combinar de se encontrar.
Também fica a sua disposição levar qualquer tipo de material, quanto mais variedade melhor, para notarem que nós temos força e coragem de defender aqueles que estão sofrendo calados.
Me liguem 19 91934501 19-96124900 ou <myzz@uol.com.br>.
2. USP promove campanha contra abandono de animal
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u109277.shtml
Para tentar diminuir o abandono de bichos no campus da USP (Universidade de São Paulo) na capital, a universidade lança amanhã uma campanha sobre a posse responsável de animais. O outdoor da campanha tem a foto de um cachorro com o slogan "nem todo mundo que entra na USP tem um futuro brilhante".
A idéia é estimular o debate sobre o assunto e fazer com que as pessoas denunciem casos de abandono e maus-tratos de animais no local. Além disso, a campanha irá promover a adoção de 50 animais que, atualmente, estão alojados em um ambulatório veterinário dentro da prefeitura da Cidade Universitária, no campus do Butantã (zona oeste).
Quatro outdoors sobre o tema --três dentro da universidade e um fora, na marginal-- já foram instalados. A partir de segunda-feira, serão distribuídos 15 mil folders e 500 cartazes. A campanha também conta com um site ( www.usp.br/vidadigna ) --até o fechamento desta edição, entretanto, ele não estava no ar.
3. Programa de Rádio da FALA BICHO
Gostaria de convida-lo para a estréia do nosso quadro “Fala Bicho” no Programa Boa Tarde Globo, apresentado pelo jornalista Francisco Barbosa, na Radio Globo. A transmissão é nacional e será apresentado todo sábado entre 13:00 e 15:00h. Há 10 anos atrás, ocupamos este mesmo espaço, em rede local, e ficamos no ar durante 1 ano e meio. Espero contar com a participação e audiência de todos. Aí vão as retransmissoras locais, possibilidade de ouvirem pela net no site http://radioclick.globo.com/globobrasil/
No programa de estréia vou falar sobre a manifestação contra circo em São Caetano do Sul
Mensagens para franciscobarbosa@radioglobo.com.br, falabicho@falabicho.org.br ou através dos respectivos tels. das rádios.
Barbacena - MG 820 khz Belo Horizonte - MG 1.150 khz Campinas - SP 1.390 khz Curitiba - PR 670 khz Fátima do Sul - MS 1.140 khz Gov. Valadares - MG 930 khz Itapetininga - SP 900 khz Juiz de Fora - MG 910 khz Londrina - PR 830 khz
Natal - RN 640 khz Pres. Prudente - SP 1.380 khz Ribeirão Preto - SP 550 khzRio de Janeiro - RJ 1.220 khz São Paulo SP - 1.100 khz Teresina - PI 570 khz Paranaguá - PR 1570 khz
4. Aviso Território Selvagem:
Gostaríamos muito de organizar outro "Evento de Doação de Cães e Gatos" para dia 7 de agosto, mas estamos com um pouco de dificuldade de arranjar espaço, pois o mesmo tem que ser coberto e em região residencial (de preferência escolas).
Se alguém souber de algum lugar que possa nos ceder esse espaço, por favor nos avise. A organização e divulgação é por nossa conta e também contamos com o apoio do Late Show, voces só tem que levar os bichinhos e doá-los para famílias que os amem.
Aguardamos contato. Fernanda (Veterinária do Território Selvagem e SOS Fauna) e Helena <territorioselvagem@uol.com.br>. F. 11- 31889933
5. Projeto Cão do Idoso SP SP www.projetocao.com.br
O Projeto Cão do Idoso foi desenvolvido na cidade de São Paulo, em agosto de 2000, com o objetivo de promover a Terapia Assistida por Animais (Animal Assisted Therapy - AAT) de forma filantrópica e totalmente voluntária. O Projeto contribui com as casas de repouso e abrigos para idosos.
Este programa tem como objetivo atender os idosos em suas mais diversas necessidades sejam elas emocionais, mentais, físicas e sociais. A Terapia Assistida por Animais é aplicada em tratamentos variados e tem apresentado resultados positivos em todas áreas onde é utilizada. A TAA funciona como um estímulo para esses tratamentos. Especificamente com os idosos, temos testemunhado muitos aspectos positivos gerados no decorrer dos tratamentos; aumento visível dos canais de percepção do idoso, tornando-o mais receptivo ao meio que vive. O projeto tem o acompanhamento de profissionais relacionados à diversas áreas, como: veterinários, psicólogos, assistentes sociais, etc, também conta com colaboradores que exercem outras funções que se incorporam ao programa.
O Projeto Cão do Idoso conta hoje com cerca de 30 colaboradores e atende em média 150 idosos, aplica os princípios da TAA em convergência a outros projetos dos EUA, Canadá e Europa. Os resultados desse trabalho e seus benefícios além de aceitos pela sociedade e comunidade médica já tem reconhecimento científico, o que implica diretamente na necessidade do desenvolvimento de Projetos similares pelo país.
A terapia é feita durante a semana de terças e sextas-feiras as 9:00hs da manhã e de domingos as 10:00hs.
veraftaubert@superig.com.br
Matéria
O triunfo da humanidade vegetariana
Por Carlos Alberto Dória (*)
Futurologia do antropólogo Lévi-Strauss mostra o beco sem saída da dieta carnívora moderna
Com muitos anos de atraso, finalmente chega aos leitores de fala portuguesa uma reflexão essencial de Lévi-Strauss sobre o canibalismo ocidental moderno. Ele já havia tratado do assunto em 1993, num artigo jornalístico ("Siamo tutti canibali", "La Repubblica", 1993), voltando ao tema praticamente nos mesmos termos em número recente da revista "Novos Estudos Cebrap" 1. Não sem atualidade, somos brindados com suas reflexões sobre o mal da "vaca louca" e outros males que se insinuam na vida moderna através da alimentação.
O tema é atual na medida em que é recorrente o horror que se instala no cotidiano por essa via. Cada vez mais, não são falhas sanitárias passageiras dos sistemas de produção de alimentos que parecem nos ameaçar. É toda uma fronteira da cultura -aquela que nos faz onívoros- que se mostra frágil. Salmões infectados por parasitos, causando difilobotríase, são um caso recente dos riscos múltiplos a que estamos permanentemente expostos.
Veterinários têm se dedicado a mostrar o impacto da qualidade das águas, do parasitismo, da origem e da genética dos pescados, das formas de manipulação e conservação, da piscicultura como atividade industrial -tudo como elementos que atuam diminuindo os níveis de confiança naquilo que levamos à boca 2. Em outras palavras, a "naturalidade" como sinônimo de "pureza" só existe no plano ideal, já que os sistemas alimentares se fecham e se interpenetram, encerrando a todos -homens e animais- numa promíscua senda alimentar na qual nos comemos uns aos outros.
Uma visão simplista de ecologistas nos ensina que isso se deve aos crescentes desequilíbrios ambientais, fato comprovável pelo grau de comprometimento do ar e das fontes de água pela atividade antrópica. A rigor, para muitos deles, a natureza é um sistema de equilíbrio onde o homem é uma ameaça ecológica externa. Mas concepções dinâmicas da natureza mostram-na claramente como um produto histórico, fruto de processos instáveis que jamais convergem para um ponto de equilíbrio, nos quais o homem está igualmente subsumido.
É claro que a noção de equilíbrio favorece a defesa consciente de sistemas ecológicos discretos, mas os objetivos políticos não estão inscritos na natureza. Mesmo a transgenia, como toda a seleção artificial, só pode ser vista como um processo adaptativo do homem, um traço da sua cultura e não uma mudança imposta à natureza, apesar de possíveis impactos que provoque nela.
É justamente da intervenção humana que se trata, e portanto da cultura. É ela, por exemplo, que nos faz onívoros. Contudo não foi sempre assim. A bíblia mostra uma humanidade não-carnívora no tempo mitológico antes da Torre de Babel, quando os homens e os animais não eram distintos uns dos outros e podiam se comunicar entre si. Tampouco este processo é irreversível. Há documentos que se referem à proibição de consumo de animais no Japão de 700 a. C., assim como outros que mostram como o imperador Ashoka difundiu uma dieta vegetariana na Índia de 200 a. C., garantindo especialmente os produtos lácteos para as funções religiosas.
Dirá Lévi-Strauss que, se no passado já nos vimos irmanados às espécies animais, então o que a nossa cultura moderna pratica é uma sorte de canibalismo, apesar do horror que essa palavra desperta, como se tocasse nosso "lado Hannibal" adormecido. E este canibalismo foi imposto ao próprio mundo animal. Basta observar as rações que são ministradas a vacas, frangos e peixes cuja reprodução controlamos - compostas em boa medida de carcaças e rejeitos dos próprios animais abatidos para o consumo humano. Uma doença como a "vaca louca", e inclusive o risco de sua propagação interespécies, mostra a armadilha que criamos para nós mesmos pela imposição do canibalismo aos animais.
Este vínculo entre alimentação carnívora e "canibalismo ampliado" que adquire atualidade a partir da "vaca louca", assim como a voga dos movimentos em defesa dos animais, "atesta que percebemos cada vez mais nitidamente a contradição que se encerra em nossos costumes"
O antropólogo francês recorre a alguns textos considerados "menores" de Auguste Comte para demonstrar a nossa visão sobre o papel dos animais para a coletividade humana.
Comte dividia os animais em três categorias: os selvagens; as espécies protegidas (aquelas domesticadas ao longo da história, como os bovinos, suínos etc.) que chamava de "laboratórios nutritivos" por terem sido transformados para suprir a humanidade dos compostos orgânicos que necessita para a subsistência e, assim, excluídos da pura animalidade; e a categoria das "espécies sociáveis", como o cão, o gato. Considerava ainda os herbívoros como carentes de dotes mentais que os permitisse serem utilizáveis como o cão e o gato, e preconizava convertê-los em carnívoros, aumentando-lhes a inteligência - como à época de Comte já se fazia com as vacas na Noruega, alimentando-as com peixe seco quando faltava forragem.
Lévi-Strauss considera proféticas essas reflexões utópicas de Comte, especialmente a transmutação de herbívoros em carnívoros, embora a profecia não tenha se passado como Comte imaginou: "A transformação não foi obtida em benefício dos ativos auxiliares do homem, mas em detrimento dos animais qualificados por Comte como laboratórios nutritivos - erro fatal, já que, como ele próprio alertou, 'o excesso de animalidade lhes será prejudicial'. Prejudicial não apenas a eles, mas também a nós: ao lhes conferirmos um excesso de animalidade (convertendo-os antes em canibais que em carnívoros) não estaríamos involuntariamente transformando nossos 'laboratórios nutritivos' em laboratórios mortíferos?"
Doenças como a "vaca louca" ou as infestações dos salmões por teníase nada mais são do que males modernos da civilização industrial ao converter espécies naturais em "laboratórios nutritivos" cujos insumos incluem o reaproveitamento de parte desses seres como rações em sua alimentação, otimizando custos de produção e taxas de conversão protéica. Políticas sanitárias rigorosas que possam proteger a saúde dos animais são adotadas por toda parte, gerando inclusive novas categorias mercantis: os animais com "label", com origem e manejo controlado e o mais próximo possível da antiga "naturalidade". O ressurgimento do "frango caipira" entre nós é exemplo suficiente.
Mas também este caminho delineia um cenário sobre o qual Lévi-Strauss tem algo a dizer. "Num mundo em que a população global provavelmente terá dobrado em menos de um século, o gado e outros animais de criação se tornarão temíveis concorrentes do homem. Calcula-se que nos Estados Unidos dois terços da produção de cereais se destinam a alimentá-los. E não nos esqueçamos de que esses animais, em forma de carne, nos fornecem um número de calorias bem inferior àquele que consumiram no curso de suas vidas (no caso das galinhas, segundo me disseram, um quinto)"
Ainda que se imagine que os aumentos de produtividade de cereais possam ser enormes -mas a transgenia também suscita preocupações- é possível que a humanidade venha a necessitar, no futuro, de toda a quantidade de grãos produzidos anualmente para sobreviver, impondo mesmo a ocupação de todas as terras cultiváveis em escala global (que, por sua vez, diminuem em extensão à medida que a própria população cresce e as compromete pela ação antrópica). Ou seja, pelos cálculos da economia calórica e protéica, a sobrevivência humana um dia será ameaçada pela produção dos "laboratórios nutritivos" de Comte.
No entanto, diz Lévi-Strauss, como há um salto enorme no aproveitamento calórico quando nos alimentamos de grãos, "todos os humanos deverão calcar seu regime alimentar naquele dos indianos e dos chineses, em que a carne animal cobre uma parte muito pequena da necessidade de proteínas e calorias"
Esta coluna é atualizada
todas às segundas-feiras